Washington - O acordo nuclear preliminar entre o Irã e as potências internacionais é uma conquista tardia da política externa transformadora que o presidente Barack Obama sempre promoveu e desejou. Esse é um dos motivos pelos quais seus adversários republicanos desconfiam do acordo, que veem como o resultado de uma doutrina diplomática fraca e que busca a aproximação com os inimigos dos Estados Unidos às custas dos amigos. O acordo, forjado depois de intensas negociações entre o Irã e as potências ocidentais, é o avanço mais importante registrado em mais de 30 anos de hostilidade, se não de ódio, entre Washington e Teerã.
Foi alvo de deboches por "liderar por trás" a rebelião na Líbia e por seu anúncio tardio de atacar a Síria. Prefere a temível, mas teleguiada guerra com drones. Qualquer acordo para por fim ao programa nuclear iraniano, por mais que imperfeito, que evite uma ação militar, cujo direito, no entanto, se reserva de lançar mão, se enquadra a sua visão de mundo. "As opções militares sempre são difíceis, sempre têm consequências não intencionadas, e, nesta situação, nunca são completas em termos de nos assegurar que depois não buscarão no futuro dotar-se de armas nucleares, inclusive de forma mais vigorosa", afirmou na semana passada.
Sempre há o deboche de alguns políticos que assinalam que finalmente Obama está ganhando o Prêmio Nobel da Paz concedido prematuramente em 2009. A piada poderá ser colocada de lado se for obtido um acordo em longo prazo com o Irã. Mas os adversários políticos internos de Obama não estão convencido disso. Muitos rejeitam a ideia de falar com uma nação que durante décadas os Estados Unidos classificaram como "o império do mal".
A posição fragilizada de Obama um ano depois de iniciado seu segundo mandato também não ajuda. "Este governo é muito propenso a anúncios, mas falha em consegui-los", declarou Bob Crocker, líder republicano da Comissão de Relações Exteriores do Senado, falando no domingo ao canal Fox. Para Mike Rogers, republicano que preside a Comissão de Inteligência da Câmara de Representantes, o Irã "recebeu uma permissão para continuar com o enriquecimento de urânio, que é precisamente o que todo mundo estavam tentado evitar", declarou à CNN.
Apesar da antipatia no Capitólio, Obama poderá recorrer a uma atribuição do executivo para cumprir com o compromisso dos Estados Unidos de aliviar as sanções contra o Irã pela "modesta cifra" de 7 bilhões de dólares, em troca que Teerã dê passos para deter o avanço de seu programa nuclear. O Congresso deverá novas sanções em dezembro para que entrem em vigor dentro de seis meses, o prazo do acordo preliminar com o Irã, caso não se alcance um acordo definitivo.