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Assembleia de líderes afegãos aprova acordo de segurança com EUA

O Acordo Bilateral de Segurança (BSA) define as modalidades da presença militar americana no Afeganistão após a retirada dos 75 mil soldados da Otan até o fim de 2014

Cabul, 24 novembro 2013 (AFP) - A assembleia tradicional afegã, Loya Jirga, aprovou neste domingo (24/11) um acordo de segurança com os Estados Unidos crucial para o futuro do Afeganistão, mas para cuja assinatura o presidente do país, Hamid Karzai, impôs uma série de condições.

"O acordo foi aprovado", declarou Fazul Karim Imaq, vice-presidente da assembleia, que, desde a última quinta-feira, reuniu 2,5 mil representantes de 34 províncias afegãs.

O Acordo Bilateral de Segurança (BSA) define as modalidades da presença militar americana no Afeganistão após a retirada dos 75 mil soldados da Otan, até o fim de 2014, o que faz temer uma onda de violência no país, parcialmente controlado por rebeldes do talibã. Contrários à presença de tropas estrangeiras no Afeganistão, os rebeldes condenaram a decisão.

Após meses de duras negociações, Cabul e Washington acertaram esta semana os termos do acordo, que ainda tem que ser aprovado pelo parlamento e promulgado pelo presidente, Hamid Karzai.

Estes trâmites poderiam acontecer até o fim do ano, como desejam os Estados Unidos, que alegam precisar de tempo para preparar a etapa posterior a 2014.



Mas na última quinta-feira, Karzai anunciou que o acordo será promulgado após as eleições presidenciais de 5 de abril. Washington adiantou que um atraso na promulgação não é prático, e ameaçou retirar totalmente suas tropas do Afeganistão. Por isso, os delegados da Loya Jirga pediram a Karzai, em sua declaração final, que promulgue o acordo até o fim do ano.

Em seu discurso de encerramento da assembleia, o presidente afegão disse: "Este acordo deve nos conduzir à paz. Caso contrário, seria um desastre. Os americanos devem cooperar, participar do processo de paz."

Karzai também pediu aos Estados Unidos que ponham fim a todas as operações militares contra domicílios afegãos, que, segundo o presidente, violam a soberania de seu país. "Se os Estados Unidos retornarem às nossas casas, não haverá acordo", afirmou aos delegados da Loya Jirga, reunidos no campus da Universidade Politécnica, em Cabul.

Karzai assinalou que continuará suas negociações sobre este acordo com Washington, apesar do risco de irritar seu principal parceiro financeiro e militar. A embaixada americana em Cabul afirmou que interessa aos dois países que o impasse seja resolvido o quanto antes.

A aprovação do tratado pela Loya Jirga permitiu que se superasse o obstáculo da imunidade de jurisdição dos soldados americanos que permaneceriam no país após 2014. "Os julgamentos de americanos que cometerem crimes no Afeganistão acontecerão em bases americanas, sempre que possível", uma condição sine qua non para Washington, declarou Imaq.

A não promulgação do acordo poderia trazer graves consequências para o Afeganistão, cujo governo segue sem poder controlar o talibã, expulso do poder em 2001 por uma coalizão militar liderada pelos Estados Unidos.

Aos americanos, o BSA permitira continuar dispondo de bases em uma região de grandes desafios estratégicos, uma vez que o Afeganistão se encontra na confluência de Irã, Paquistão, Índia e China.