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Tiros forçam cancelamento de enterro de vítimas de tufão nas Filipinas

A cidade de Tacloban foi uma das cidades mais afetadas pela passagem do Haiyan



"Podemos morrer de fome"

Alguns deles, esgotados, traumatizados, famintos, invadiram nesta quarta-feira o aeroporto da cidade, destruído, para implorar por vagas nos aviões militares que transportam ajuda humanitária e equipamentos.

"Todo mundo tem medo. Dizem que não há alimentos, que não há água, que desejam ir embora", afirmou o capitão Emily Chang, médico militar que tem cuidado dos feridos no complexo do aeroporto.

Um menina de sete anos desaparece em meio à multidão. "Estamos aqui há três dias, mas ainda não conseguimos pegar um voo", explicou sua mãe Angeline. "Podemos morrer de fome".

A Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) alertou nesta quarta para os riscos de epidemias ligadas à água.

Apesar das promessas de doações da comunidade internacional e do envio de uma frota de navios de guerra ocidentais, a ajuda chega lentamente, mesmo com as autoridades tendo assegurado que todas as estradas haviam sido desbloqueadas nas duas ilhas mais afetadas.

A ONU, que pediu na terça-feira 301 milhões de dólares para ajudar as vítimas, indica a morte de 10.000 pessoas apenas na cidade de Tacloban, mas o presidente filipino Benigno Aquino considerou esse número "elevado demais", citando de "2.000 a 2.500" mortos.

O último registro oficial é de 2.275 mortos e 80 desaparecidos.

As Nações Unidas não quiseram entrar nessa polêmica. "Nós nos concentramos nos vivos, não nos mortos", declarou Valerie Amos, chefe das operações humanitárias da ONU.

"Sacos mortuários insuficientes"

O secretário de Governo, Rene Almendras, admitiu que as autoridades estavam sobrecarregadas pelo número de mortes. "A razão para a coleta de corpos estar parada é que os sacos mortuários são insuficientes", disse nesta quarta-feira. "Mas nós temos 4.000 sacos agora. Nós nos esforçamos para termos mais do que o necessário".

A ONU estima que mais de 11 milhões de pessoas, mais de 10% da população, foram atingidas pelo desastre, 673.000 das quais foram deslocadas. E, de acordo com a Organização Internacional do Trabalho (OIT), cerca de três milhões de pessoas perderam temporariamente ou permanentemente o seu sustento.

Nesta quarta-feira anúncios ou promessas de ajuda, financeira ou material, continuavam a chegar. O porta-aviões americano George Washington e vários outros navios da Marinha dos Estados Unidos deixaram Hong Kong na terça-feira, com 7.000 marinheiros a bordo, para chegar o mais rápido possível ao arquipélago. E os Estados Unidos anunciaram nesta quarta o envio de dois navios adicionais com capacidade de dessalinização da água do mar

Por falta de água, alimentos, medicamentos e abrigo, os sobreviventes pegaram em armas em algumas áreas para saquear prédios ainda de pé.

Para deter os saqueadores, um toque de recolher foi anunciado em Tacloban e cerca de 2.000 soldados e policiais foram mobilizados.

Se a situação na cidade é "angustiante", a preocupação também é grande para algumas ilhas nas proximidades, considerou Patrick Fuller, porta-voz regional da Cruz Vermelha Internacional. "Eu acredito que vai demorar dias, se não semanas, antes de termos uma imagem precisa da situação."