Passadas três décadas, o Estado colombiano desculpou-se em público e reconheceu parcialmente a responsabilidade pelas consequências da retomada por via militar do Palácio da Justiça, em Bogotá, que esteve em poder de guerrilheiros do Movimento 19 de Abril (M-19) entre 6 e 7 de novembro de 1985. A admissão foi feita ontem, em audiência aberta da Corte Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) sobre o processo que trata de 13 casos de desaparecimento forçado, execução e tortura. Embora tenha sido a primeira vez que representantes colombianos reconheceram a responsabilidade do Estado em violações de direitos, familiares de vítimas que movem o processo em âmbito internacional qualificaram a declaração como ;tardia e oportunista;.
No início da audiência, realizada na sede do Tribunal Superior do Trabalho (TST), em Brasília, a diretora da Agência de Defesa Jurídica da Nação, Adriana Guillén, pediu perdão em nome da Colômbia. ;Esperamos que este ato contribua para que as vítimas e seus familiares recuperem parte da confiança perdida no Estado, e lamentamos profundamente as omissões que deixaram profundas feridas;, declarou. Em nome dos familiares, Pilar Navarrete, viúva do desaparecido Héctor Jaime Beltrán, afirmou que a declaração da diretora era ;vazia; e pediu que a ;aceitação de responsabilidade; não seja tratada como ;reparação;. ;A mudança de estratégia, às vésperas da audiência, continua ofendendo a dignidade das vítimas, de suas famílias e da sociedade colombiana. Depois de 28 anos, persistem a negação e a mentira que caracterizaram as respostas de todos os governos.;
A Comissão Interamericana de Direitos Humanos, responsável por apresentar o caso à Corte, avaliou positivamente a admissão do Estado, mas endossou o argumento de que o reconhecimento é ;tardio e incompleto;, destacando inconsistências com os fatos e omissões de responsabilidades importantes, como a que se refere aos sequestros nos casos de desaparecimento.