Genebra - O presidente iraniano, Hassan Rohani, reafirmou neste domingo os direitos nucleares do Irã um dia depois das negociações de Genebra que, apesar dos avanços, não conseguiram levar a um acordo sobre o programa nuclear iraniano.
Durante três dias, as grandes potências e o Irã buscaram em Genebra alcançar um acordo sobre o polêmico programa nuclear iraniano, que oficialmente apenas é civil, mas que Israel e o Ocidente suspeitam que busca fabricar uma arma nuclear.
Os comentários das últimas horas sobre a reunião entre os chamados 5%2b1 (Estados Unidos, Rússia, China, França, Reino Unido e Alemanha) e o Irã eram otimistas, o que confirma as esperanças geradas pela eleição em junho de Rohani, um moderado.
O chefe da diplomacia alemã, Guido Westerwelle, considerou que estavam "mais próximos de uma solução razoável do que estivemos em anos", enquanto seu colega americano, John Kerry, saudou os progressos realizados.
[SAIBAMAIS]
O titular da pasta das Relações Exteriores da Rússia, Serguei Lavrov, disse neste domingo, durante uma entrevista coletiva em Nova Délhi, que as negociações foram "muito substanciosas" e insistiu em que a redução do risco de proliferação "só pode ser obtido através da negociação".
Por sua vez, o ministro iraniano das Relações Exteriores, Mohamad Javad Zarif, disse não estar nem um pouco decepcionado, apesar da ausência de acordo; e o britânico William Hague considerou que um acordo sobre o programa nuclear iraniano "está sobre a mesa e pode ser concluído".
Na saída do encontro, a chefe da diplomacia da União Europeia (UE), Catherine Ashton, e Javad Zarif anunciaram que as negociações serão retomadas no dia 20 de novembro.
Mas na manhã deste domingo o presidente Hassan Rohani ressaltou que seu país não renunciará aos seus direitos nucleares, incluindo o enriquecimento de urânio, declarou à imprensa.
"Há linhas vermelhas que não podem ser cruzadas. Os direitos da nação iraniana e os nossos interesses são uma linha vermelha, assim como os direitos nucleares no âmbito das regras internacionais, que incluem o enriquecimento de urânio em solo iraniano", ressaltou.
A retomada das negociações com o Irã, bloqueadas há anos, quer aproveitar a abertura em relação ao Ocidente de Rohani, que parece querer terminar logo com 10 anos de tensão sobre a questão nuclear, para relaxar e depois levantar as sanções que pesam sobre seu país.
Mas as negociações tropeçaram nas exigências de esclarecimentos de alguns participantes, em particular da França, sobre a redação de um acordo temporário de seis meses, primeira etapa "verificável" antes de um acordo permanente.
Ocidente quer garantias
O Ocidente exige garantias sobre o reator de águas pesadas de Arak e sobre a fabricação de plutônio, mas especialmente sobre a capacidade do Irã de enriquecer urânio a 20%, o parque de 19.000 centrífugas e a fabricação de uma nova geração de centrífugas cinco vezes mais rápidas. O negociador iraniano não excluiu novas negociações sobre Arak. "Insistimos nos nossos direitos e na nossa tecnologia (nuclear), mas ao mesmo tempo, estamos dispostos a dissipar as preocupações das outras partes", afirmou em Genebra o chanceler iraniano, segundo a agência ISNA.
Em troca deste acordo, o Irã espera um relaxamento "limitado e reversível" de algumas sanções, principalmente às que se referem ao congelamento pelos Estados Unidos dos bens iranianos em bancos de terceiros países.
O chefe da diplomacia francesa, Laurent Fabius, foi o primeiro a anunciar a ausência de acordo, ressaltando que havia um longo caminho pela frente.
A determinação francesa irritou em um primeiro momento alguns diplomatas, mas várias fontes diplomáticas reconheceram após o fracasso em alcançar um acordo que "há diferentes pontos que representam problemas para diferentes países, não apenas para a França".
"Os Estados Unidos estão determinados a fazer com que o Irã não adquira armas nucleares", declarou Kerry após as advertências feitas por Israel. E ressaltou neste domingo que os Estados Unidos não são cegos ou estúpidos no diálogo nuclear com a República Islâmica.
"Algumas das pessoas mais sérias e capazes de nosso governo, que passaram uma vida com o tema do Irã, assim como o das armas nucleares e da proliferação, estão envolvidas em nossa negociação", afirmou em uma entrevista a uma rede de televisão americana. "Não estamos cegos, e não acredito que sejamos estúpidos. Acredito que temos uma ideia clara sobre como medir se estamos ou não agindo de acordo com os interesses de nosso país e do mundo, e particularmente de nossos aliados, como Israel, os países do Golfo e outros na região", completou.
Haverá "um bom acordo ou não haverá nenhum acordo", disse Kerry respondendo às preocupações de Israel sobre um "mal acordo".
A propósito, Israel fará uso de seus contatos no Congresso americano, durante visita de um de seus ministros na terça-feira, para impedir que as grandes potências e o Irã selem um acordo.
Por parte da oposição iraniana, a presidente do Conselho Nacional da Resistência Iraniana (CNRI), Maryam Radjavi, considerou em um comunicado enviado à AFP que qualquer acordo entre o Irã e as grandes potências que não preveja a detenção completa do programa nuclear iraniano dá a Teerã a possibilidade de adquirir a arma nuclear.
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O ambiente otimista das negociações pode ter um primeiro resultado concreto muito em breve: a Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), cujo diretor-geral, Yukiya Amano, viajará na segunda-feira a Teerã, espera obter concessões do Irã sobre o programa de verificação e de visitas as suas instalações nucleares.