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Índia lança 1ª missão para Marte por meio de tecnologia de baixo custo

A missão para Marte, iniciada em 2012, custou 72 milhões de dólares

Nova Délhi - O foguete indiano que transporta uma sonda para Marte decolou nesta terça-feira (5/11) na região sul do país, que tem a meta de ser a primeira nação asiática a chegar ao planeta vermelho graças a uma tecnologia de baixo custo. "Decolou", anunciou o apresentador da televisão pública, às 9H08 GMT (7H08 de Brasília), quando o foguete vermelho e preto deixou a plataforma de lançamento em Sriharikota, na baía de Bengala, 80 km ao nordeste de Chennai (Madras), sul do país.

[SAIBAMAIS] O foguete de 350 toneladas transporta uma sonda de 1,3 tonelada, a Mars Orbiter, que vai demorar quase um ano para chegar ao planeta vermelho, que fica a mais de 200 milhões de km da Terra. A sonda entrou em órbita ao redor da Terra menos de uma hora depois da decolagem, segundo a agência espacial indiana.

Dezenas de cientistas acompanharam a trajetória na sala de controle, testemunhas de um dos maiores projetos espaciais da Índia desde o início do programa em 1963.

A Índia aspira entrar para a história da exploração interplanetária como o primeiro país da Ásia a chegar a Marte. O primeiro-ministro Manmohan Singh anunciou a missão há 15 meses, pouco depois do fracasso de uma missão chinesa, na qual a sonda russa que transportava o satélite chinês Yinghuo-1 não seguiu a trajetória para Marte. Concebida e construída em tempo recorde, e com orçamento reduzido, a sonda tem captores que devem medir a presença de metano na atmosfera de Marte, o que reforçaria a hipótese de uma forma de vida primitiva no planeta. Ao chegar ao planeta em 2012, o robô Curiosity da Nasa, uma espécie de pequeno veículo com 10 instrumentos, não detectou metano - gás que geralmente significa sinal de atividade biológica -, segundo um estudo publicado em setembro.



O sucesso da missão seria motivo de grande orgulho para o país de 1,2 bilhão de habitantes. Em 2008, uma sonda indiana permitiu descobrir a presença de água na Lua, 39 anos depois da façanha de Neil Armstrong, o primeiro homem a pisar no satélite natural da Terra. Além disso, reforçaria a reputação industrial e tecnológica da Índia, que produz o carro mais barato do mundo e se impõe como líder mundial da inovação de baixo orçamento. A missão para Marte, iniciada em 2012, custou apenas 4,5 bilhões de rupias (72 milhões de dólares, 54 milhões de euros), concebida com base no "Jugaad", um princípio indiano que consiste em encontrar a solução menos cara possível.

O foguete que deve propulsar a Mars Orbiter não é potente o bastante para a missão, mas os engenheiros da ISRO (Organização Indiana de Pesquisa Espacial) tiveram a ideia de colocar a sonda para girar ao redor da Terra durante um mês para que ganhe velocidade suficiente para escapar da força da gravidade terrestre.

"Não a subestimem porque é uma missão barata e pioneira", advertiu recentemente o jornalista especializado em ciência Pallava Bagla. "Tem a Jugaad, a inovação. Todo mundo busca hoje em dia realizar missões de baixo custo", disse.

Vários países lançaram missões espaciais a Marte, em especial Estados Unidos, Rússia, Japão e China, mas muitos, como Japão e China, fracassaram.

A Índia também registrou vários fracassos no setor espacial, incluindo a explosão em voo de um foguete em 2010 e a perda de contato com a sonda Chandrayan em 2009. A Nasa lançará em 18 de novembro uma sonda, Maven, à camada atmosférica mais elevada de Marte com o objetivo de compreender melhor as razões do desaparecimento da maior parte de sua atmosfera. O orçamento dedicado a Maven é seis vezes superior ao da Mars Orbiter. "Não pensávamos que (os indianos) seriam capazes de enviar (a sonda) tão rápido", declarou à AFP Joe Grebowsky, cientista americano que trabalha no projeto Maven. "Se conseguirem, será fantástico".