Pequim - A segurança foi reforçada nesta quinta-feira (31/10) na China, onde imprensa pediu mais rigidez na luta antiterrorista depois do atentado na praça Tiananmen (Paz Celestial) de Pequim, cometido, segundo a polícia, por extremistas muçulmanos uigures. "O terrorismo tenta atacar no coração da nação", afirma um editorial do jornal China Daily, segundo o qual os autores do atentado passarão para a história como "assassinos e não como heróis".
[SAIBAMAIS]Na segunda-feira, segundo a polícia, três uigures da mesma família, moradores da região majoritariamente muçulmana de Xinjiang (oeste), avançaram com um jipe lotado de galões de gasolina contra a entrada da Cidade Proibida, em um ataque suicida que matou os autores, outras duas pessoas e deixou quase 40 feridos. As forças especiais da polícia foram mobilizadas em Tiananmen, um dos lugares mais vigiados da China e onde aconteceu, em 1989, uma violenta repressão do movimento que pedia democracia.
Hua Chunying, porta-voz do ministério das Relações Exteriores, advertiu que seria um "erro" vincular o atentado à política do governo para Xinjiang. Os uigures, muçulmanos de língua turca e principal etnia de Xinjiang, afirmam que sofrem com uma política repressiva contra sua religião, língua e cultura. Na Praça Tiananmen aconteceu "um violento ataque terrorista, cuidadosamente planejado, organizado e premeditado", afirmou a polícia, que na quarta-feira prendeu cinco suspeitos com material para iniciar uma "jihad" (guerra santa), segundo declarações das autoridades.
"Os terroristas de Xinjiang ampliam o espectro de suas atividades", afirma em editorial o jornal Global Times. "Nossa determinação deve ser mais firme que a deles", completa. O jornal adverte que a luta afetará inevitavelmente a vida dos habitantes de Xinjiang, uma grande região no extremo oeste da China. "Os terroristas violentos são os inimigos comuns de toda China. Os habitantes de Xinjiang, em particular os uigures, serão as primeiras vítimas", afirma o Global Times.
Os uigures que foram entrevistados pela AFP em Pequim nesta quinta-feira rejeitaram as acusações de terrorismo, afirmando que o que aconteceu na Praça da Paz Celestial serve de "pretexto" às autoridades para aumentar "a repressão em Xinjiang". "Eu não acredito que exista uma só organização terrorista uigur, mas a China nos cataloga como terroristas", declarou à AFP um uigur, que pediu anonimato, no campus universitário de Pequim. "A afirmação da China é, em vários aspectos, difícil de acreditar e em outros escandalosa", afirmou nos Estados Unidos Alim Seytoff, porta-voz do Congresso Mundial Uigur, uma organização no exílio de defesa dos uigures.
Ele destaca incoerências na versão das autoridades sobre o que aconteceu em Tiananmen. A polícia chinesa afirma que os três ocupantes do carro eram da mesma família: o motorista, Ousmane Hassan, acompanhado da mãe e da mulher. "Por quê teria levado a mãe e a esposa?", questiona Seytoff. Ele também considera curioso que a polícia tenha encontrado uma bandeira com frases religiosas fundamentalistas em um carro que ficou totalmente queimado.
Um chef em um restaurante de Pequim que pertence a um uigur disse que a discriminação étnica é muito frequente. "Muitas pessoas da etnia Han suspeitam de nós", afirmou. "Geralmente, os hotéis de Pequim não aceitam os uigures e os proprietários não querem alugar suas casas", explicou. Na universidade, um uigur de meia-idade disse que teve o pedido de emissão de passaporte negado três vezes, sem explicações. "Encontrar trabalho, obter um passaporte ou abrir uma loja: nós não temos os mesmos direitos nestas questões", protestou.
Os governos locais de Xinjiang proibiram os funcionários públicos e estudantes a jejuar durante o Ramadã muçulmano. Os grupos de defesa dos direitos humanos afirmaram que o Estado restringe o teor dos serviços religiosos.