Jornal Correio Braziliense

Mundo

Milhares convocados pela vítimas do ETA protestam para pedir justiça

Os protestos são contra sentença proferida pelo Tribunal Europeu de Direitos Humanos, que permitiu a libertação de Inés del Río Prada, militante do grupo separatista condenada por 24 assassinatos a 3.828 anos de prisão, dos quais cumpriu 26

Madri - Dezenas de milhares de pessoas se concentraram este domingo em Madri, convocados pelas vítimas do ETA, para pedir justiça, após a sentença de juízes de Estrasburgo que poderia libertar dezenas de membros do grupo separatista basco.

Convocados pela Associação de Vítimas do Terrorismo (AVT), principal representante do grupo, e com o apoio expresso do Partido Popular (PP, direita), no poder, a multidão se reuniu na praça de Colón, no centro da capital espanhola, onde foi instalado um palco com um cartaz gigante com a palavra "Justiça" ladeada por dois laços pretos, em sinal de luto.

Com os acordes do hino nacional emitido por auto-falantes, muitos manifestantes agitavam centenas de bandeiras espanholas, símbolo da unidade do país.

Leia mais notícias em Mundo

Enquanto isso, um membro da organização gritava "contra o ETA" pelo sistema de som, uma palavra de ordem recebida com aplausos na praça, cujos ocupantes entoaram em uníssono "a Espanha, unida, jamais será vencida".

"Os criminosos têm que pagar", dizia Maria Luisa Guisado, uma manifestante de 71 anos, que caminhava com o marido e outro casal de amigos aposentados, todos com bandeirolas nas mãos.

"Não somos vítimas, graças a Deus, mas estamos aqui pelo menos para apoiar as vítimas. Tomara que sirva para alguma coisa", acrescentou.

"Queríamos estar com as vítimas do terrorismo", dizia Antonio Quiroga, de 42 anos, acompanhado da mulher e dos três filhos, um deles com a bandeira espanhola nas costas.

As associações de vítimas do ETA protestam contra uma sentença proferida em 21 de outubro pelo Tribunal Europeu de Direitos Humanos (TEDH), em Estrasburgo, que permitiu a libertação de Inés del Río Prada, militante do grupo separatista condenada por 24 assassinatos a 3.828 anos de prisão, dos quais cumpriu 26.

Os juízes consideraram ilegal o prolongamento, a partir de 2008, de sua prisão com base na doutrina Parot, sistema de cômputo de redução de penas, aplicado com retroatividade na Espanha desde 2006, que afetava presos com condenações múltiplas.

Se esta decisão criar jurisprudência, a Justiça espanhola pode se ver forçada a libertar dezenas de membros do ETA presos. Um segundo integrante do grupo já foi libertado na sexta-feira, enquanto outros 51 apresentaram recursos para ser libertados a partir da sentença de Estrasburgo.

Em um país onde a lembrança da violência ainda está muito viva - o último atentado mortal na Espanha data de 2009 -, a sentença do tribunal europeu causou polêmica.

Pressionado pela indignação das associações de vítimas, um importante lobby conservador, o chefe de governo, Mariano Rajoy, qualificou de "injusta" a decisão, enquanto seu partido se unia à convocação da AVT para se manifestar.

Mas ainda assim, algumas vítimas consideram insuficiente a resposta do governo e a justiça espanhola, e a justiça espanhola, aos quais pedem que não acatem a sentença.

"ETA culpado, governo responsável", gritava um grupo de manifestantes. "Rajoy, traidor da Espanha. Pisas - miserável - a dor das vítimas", dizia um cartaz.

Desde que chegou ao poder em 2011, o governo de Mariano Rajoy tem mostrado uma posição inflexível com relação ao ETA, responsável pela morte de 829 pessoas durante quarenta anos de atentados pela independência do País Basco e Navarra.

Considerada organização terrorista pela União Europeia e Estados Unidos, o grupo renunciou à violência em 20 de outubro de 2011.