Buenos Aires ; Trinta milhões de eleitores argentinos irão às urnas amanhã (27) para renovar metade da Câmara dos Deputados e um terço do Senado. Os resultados da votação definirão o apoio político à presidenta Cristina Kirchner nos dois últimos anos de seu segundo mandato. A composição do novo Parlamento desencadeará o processo de sucessão presidencial nas eleições de 2015.
;Essa eleição não deve provocar grandes mudanças na composição do Congresso, mas marca o princípio do fim do kirchnerismo;, disse o analista político Rosendo Fraga, em entrevista à Agência Brasil.
A Era Kirchner começou em 2003, quando Nestor Kirchner assumiu a Presidência de uma Argentina recém-saída de uma das piores crises econômica, política e social da história recente. Ele ajudou a eleger a mulher, Cristina, em 2007, e morreu em 2010. Um ano depois, a viúva de Nestor foi reeleita com 54% dos votos mas, pela Constituição, ela não tem direito a um terceiro mandato consecutivo.
;Para reformar a Constituição, a presidenta precisaria de dois terços dos votos no Congresso, o que dificilmente terá. Portanto, o que está em jogo agora é saber se ela vai ter forças para fazer sua sucessão ou se o próximo governo ficará nas mãos da oposição;, disse o analista político Roberto Bacman.
Atualmente, o partido do governo, Frente Para a Vitória (FPV) e aliados têm a maioria no Congresso: 135 dos 257 deputados federais e 40 dos 72 senadores. É quase certo que manterão quórum próprio na Câmara. Dos 127 deputados que precisam renovar seus mandatos, 47 são governistas e 80 da oposição. O risco está no Senado. Hoje, Cristina Kirchner conta com o apoio de 40 dos 72 senadores mas, segundo as pesquisas de opinião, pode perder a maioria.
;Mesmo sem maioria nas duas Casas, a governabilidade de Cristina não está em jogo porque o Congresso aprovou a emergência econômica, que é a maior delegação de poderes a um presidente em 30 anos de história. Com isso, ela tem poderes para decidir, por decreto, as questões econômicas até o final de seu mandato;, disse Rosendo Fraga. ;O que todos estão de olho, agora, é quem vai despontar dessa eleição como presidenciável".
Dois presidenciáveis surgiram da campanha: Sergio Massa, o prefeito de Tigre - município à 28 quilômetros da cidade de Buenos Aires -, e Daniel Scioli, o governador da província de Buenos Aires, o maior distrito eleitoral do país, com cerca de 40% dos eleitores. Ambos têm uma história no Partido Justicialista (Peronista) e trabalharam com Nestor e Cristina Kirchner.
Massa, no entanto, passou para a oposição: candidatou-se a deputado federal da província de Buenos Aires pela Frente Renovadora e, nas primárias, em agosto passado, obteve 35,05% dos votos, mais que Martin Insaurralde, candidato do governo e apoiado por Scioli que recebeu 29,65% dos votos. ;No encerramento de campanha, Massa fez um discurso de candidato presidencial o que prova que o que está em jogo é a sucessão de Cristina Kirchner;, disse Bacman.
Cristina Kirchner não pode participar da reta final da campanha, porque ainda está se recuperando de uma cirurgia para retirar um coágulo do cérebro. Tampouco deverá votar: os médicos proibiram que ela fizesse qualquer viagem em helicóptero ou avião e o distrito eleitoral dela é em Santa Cruz, no extremo sul da Argentina.