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Após três meses de crise política, negociações começam na Tunísia

"O mundo nos observa e espera que sejamos bem sucedidos, e tivemos um primeiro êxito com o lançamento oficial do diálogo nacional," declarou o secretário-geral do sindicato UGTT

As negociações entre os islamitas tunisianos à frente do governo nacional e a oposição para acabar com uma profunda crise política, em meio à violência jihadista, começaram nesta sexta-feira (25/10) após um compromisso de renunciar manifestado por escrito pelo governo.

"O mundo nos observa e espera que sejamos bem sucedidos, e tivemos um primeiro êxito com o lançamento oficial do diálogo nacional," declarou Houcine Abassi, secretário-geral do sindicato UGTT e principal mediador da crise, segundo um comunicado.

Essas negociações têm como objetivo pôr um ponto final a uma crise política que paralisa o país desde o assassinato do influente deputado opositor Mohamed Brahmi, no final de julho. O crime foi atribuído a um movimento jihadista que intensificou seus ataques depois da revolução de janeiro de 2011.

A oposição acusa o governo de ter ignorado o avanço da corrente radical salafista e tentado limitar as liberdades conquistadas com a revolução.

Com o lançamento do diálogo, começa também uma contagem regressiva para o governo liderado pelo Ennahda.

De acordo com o plano de saída da crise, dentro de sete dias a classe política deve designar um primeiro-ministro independente que terá duas semanas para formar seu gabinete. O governo de Ali Larayedh deve renunciar no final deste processo.



Paralelamente, os negociadores terão um mês para resolver suas discordâncias em torno da futura Constituição e a Assembleia Nacional Constituinte (ANC) deverá adotar os artigos da nova carta magna.

Outros temas que devem ser resolvidos são a criação de uma legislação e de uma comissão eleitorais antes do estabelecimento de uma data para as eleições legislativas e presidencial.

A Tunísia vive desde quinta-feira um período de luto de três dias depois que sete membros das forças de segurança morreram em dois incidentes separados.

O Ennahda, afirmando estar em "guerra contra o terrorismo", denunciou nesta sexta ataques "bárbaros" e "premeditados". O partido prometeu lutar para que esses crimes não fiquem impunes.

Desestabilizada pelas crises políticas e pela violência jihadista, a Tunísia não conseguiu fortalecer suas instituições e se dotar de uma Constituição depois da revolução de janeiro de 2011.

Os islamitas do Ennahda assumiram a liderança do governo nacional em eleições democráticas realizadas depois da queda do presidente Zine El Abidine Ben Ali, em janeiro de 2011. A Tunísia é considerada o berço do grande movimento de contestação que varreu vários governos autoritários no norte da África e no Oriente Médio, chamado de Primavera Árabe.