Bruxelas - O escândalo de espionagem americana continua a fazer eco nesta sexta-feira (25/10) e pressiona os líderes europeus, em sua maioria indignados, a exigir de Washington "um código de boa conduta". Após a França e a Alemanha, foi a vez da Espanha de anunciar a convocação do embaixador americano em Madri para explicações. Esta decisão do primeiro-ministro Mariano Rajoy é uma resposta às novas revelações da imprensa, segundo as quais a Agência de Segurança Nacional (NSA) americana teria espionado membros do governo espanhol, incluindo seu predecessor José Luis Zapatero.
Ao todo, 35 líderes mundiais, incluindo a chanceler alemã Angela Merkel e a presidente Dilma Roussef, teriam sido grampeados, indicou na quinta-feira o jornal britânico The Guardian. Além disso, a França suspeita que os serviços secretos americanos estão por trás de um ataque cibernético à presidência sofrido em maio de 2012, segundo o jornal Le Monde. As revelações, que surgiram a partir de junho, "criaram uma tensão considerável em nossas relações com alguns dos nossos mais próximos parceiros estrangeiros", admitiu Lisa Monaco, conselheira de Barack Obama para a segurança interna.
[SAIBAMAIS]Apesar dos protestos, os líderes europeus rejeitam sanções contra os Estados Unidos. "Não se trata de aumentar a pressão desnecessariamente em relação aos Estados Unidos", declarou o primeiro-ministro belga Elio Di Rupo, resumindo o estado de espírito dos chefes de Estado e de Governo da União Europeia. Os 28 líderes tentam apresentar uma unidade de fachada para exigir explicações de Washington.
A ofensiva é liderada pela França e pela Alemanha, que irão "discutir bilateralmente com os Estados Unidos, a fim de encontrar até o final do ano um acordo sobre suas relações mútuas nesta questão", segundo o comunicado da cúpula. "Tentaremos implementar um código de boa conduta com os Estados Unidos, sobre o que é aceitável e o que não é", indicou o primeiro-ministro do Luxemburgo, Jean-Claude Juncker.
Em um texto comum, os europeus reconhecem que a "coleta de informações constitui um elemento não essencial da luta contra o terrorismo", a justificativa usada por Washington. Mas "a falta de confiança poderia causar prejuízos à cooperação" neste domínio, advertiu. "Todo mundo pode entender a adoção de medidas excepcionais quando há ameaças terroristas importantes (...), mas não estamos em uma situação onde é preciso espionar uns aos outros", declarou nesta sexta Di Rupo. O presidente francês, François Hollande, disse por sua vez que "não podemos controlar os celulares das pessoas que encontramos em cúpulas internacionais".
O dilema dos europeus
O chefe de Governo finlandês, Jyrki Katainen, resumiu o dilema dos europeus: "devemos preservar a relação transatlântica e afirmar que isso (a espionagem) não é aceitável". Para além dos protestos, os europeus rejeitam sanções, em particular uma eventual suspensão das negociações de livre comércio lançadas recentemente entre os dois blocos.
Vários países, como a Grã-Bretanha e a Espanha, também decidiram não ofender Washington aderindo a iniciativa franco-alemã. A Espanha continua a ser um "parceiro e aliado" dos Estados Unidos, afirmou Rajoy. Por sua vez, o primeiro-ministro britânico David Cameron preferiu não comentar o escândalo, insistindo no fato de que as questões de inteligência cabem às nações e "não à UE".
A dificuldade de chegar a um consenso, se expressa nas divergências sobre o projeto de lei apresentado pela Comissão Europeia há meses para reforçar a proteção dos dados pessoais contra os gigantes da internet e dos serviços de inteligência. Enquanto a comissária europeia da Justiça, Viviane Reding, cobra "medidas" e a adoção da reforma "até à primavera de 2014", os 28 decidiram "por uma margem de manobra" até 2015.
"Nós devemos avançar mais rápido, mas a tarefa é complexa. Não envolve somente a vida privada, mas também o mundo dos negócios", afirmou Van Rompuy. O líder dos socialistas no Parlamento Europeu, o alemão Hannes Swoboda, criticou a atitude dos líderes da UE. Esses últimos, "parecem unicamente preocupados com as escutas inaceitáveis de seus celulares, deixando de lado a proteção dos dados dos 500 milhões de cidadãos europeus", denunciou.