Jornal Correio Braziliense

Mundo

Farc e governo colombiano iniciam nova rodada de conversações em Havana

Desde junho, os negociadores debatem a participação política das Farc, em um eventual processo de paz

Bogotá ; O governo colombiano e as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) retomam nesta quarta-feira (23/10) em Havana, capital de Cuba, as negociações pelo fim dos conflitos no país. Um ano depois do início do diálogo, anunciado em outubro do ano passado, só houve acordo parcial sobre o primeiro tema da agenda ; o desenvolvimento agrário. Desde junho, os negociadores debatem a participação política das Farc, em um eventual processo de paz.

Antes da saída da delegação de negociadores do governo para a 16; rodada de conversações, o presidente Juan Manuel Santos pediu que o processo seja ;acelerado;. O negociador-chefe, Humberto de la Calle, disse ontem (22) ter recebido instruções do governo neste sentido.

;O senhor presidente está avaliando o andamento do processo. E o propósito desta viagem para este ciclo é avançar, avançar e avançar em resultados;, disse o negociador, em declarações no palácio presidencial, após encontro com Santos.

A imprensa colombiana e alguns setores da sociedade civil e política criticam o ;ritmo das negociações; e acusam as Farc de estarem ;travando a velocidade do processo;.

Em resposta às críticas, o líder máximo das Farc, Rodrigo Londoño, chamado de Timochenko, enviou ontem (22) um comunicado em que nega que a guerrilha esteja impedindo que os diálogos avancem. Para ele, a verdadeira dificuldade ;é a pressa eleitoral do governo Santos;, que no ano que vem poderá buscar a reeleição em maio

;Culpam-nos da lentidão em avançar no processo, de colocar vários tipos de obstáculos, de tentar sair da agenda e de enganar o país, mas a poucos meses de terminar seu mandato e pressionado pela necessidade de mostrar resultados que justifiquem sua reeleição, o presidente Santos observa com angústia seus planos militares de extermínio contra as Farc terem fracassado;, afirmou em tom duro.



A menos de um mês para que se cumpra um ano do início dos diálogos em Havana, as conversações mantêm o perfil privado, embora as Farc tenham manifestado o interesse de revelar detalhes do que vem sendo discutido.

As Farc já anunciaram interesse de que o país convoque uma Assembleia Constituinte, possibilidade rejeitada pelo governo. Do mesmo modo, a guerrilha discorda de um referendo no dia das eleições presidenciais do ano que vem para ;validar; possíveis acordos das conversações. A proposta apresentada pelo Executivo ao Congresso foi acusada de ;eleitoreira; pela cúpula negociadora das Farc.

O governo insiste em não mudar o foco das negociações e não sair dos seis itens pré-determinados: desenvolvimento agrário; participação política das Farc; soluções para o problema das drogas; reparação de vítimas; desarmamento e desmobilização de guerrilheiros; e garantias para o cumprimento dos pactos firmados.

Apesar do momento de descrédito, devido à falta de anúncios de resultados, a população colombiana já demonstrou apoio ao processo. Em abril, milhares de pessoas saíram às ruas em uma marcha de apoio às negociações.

O conflito armado colombiano é responsável pelo deslocamento interno de mais de 4 milhões de pessoas e aproximadamente 600 mil mortes em 49 anos de existência. As vítimas do conflito são de todos os atores do conflito - os paramilitares das Autodefesas Colombianas (AUC), grupo que entre 1990 e 2006 foi um contraponto armado às Farc; as guerrilhas; e também o Exército colombiano.