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Rússia anuncia novas acusações de crimes graves contra Greenpeace

Quatro russos e 26 estrangeiros, entre eles a brasileira Ana Paula Maciel, foram indiciados até agora por "pirataria em grupo organizado", um crime passível de 15 anos de prisão

Moscou - A Rússia anunciou nesta quarta-feira que prepara novas acusações por "crimes graves" contra tripulantes do navio da organização ambientalista Greenpeace capturado no final de setembro, sem dar sinais de clemência, apesar dos protestos no mundo por este caso.

Quatro russos e 26 estrangeiros, entre eles a brasileira Ana Paula Maciel, foram indiciados até agora por "pirataria em grupo organizado", um crime passível de 15 anos de prisão.

O Comitê de Investigação russo informou nesta quarta-feira que estas acusações seriam corrigidas e que vários dos 30 ativistas do Greenpeace acusados de pirataria por um protesto contra uma plataforma petroleira no Ártico terão contra si acusações de "outros crimes graves". "É evidente que algumas pessoas envolvidas serão acusadas de outros crimes graves", declarou o porta-voz Vladimir Markin.

[SAIBAMAIS]Segundo o comitê, as autoridades encontraram entorpecentes, "aparentemente papoula e morfina", assim como equipamentos tecnológicos suspeitos no navio "Arctic Sunrise" da organização ambientalista, capturado em 19 de setembro. O material apreendido poderia ser usado "não só com fins ecológicos", destacou o comitê judicial.

"A investigação está identificando os indivíduos que voluntariamente atacaram as embarcações da guarda costeira, colocando em risco a vida e a integridade física dos representantes da força pública", acrescentou em um comunicado o porta-voz do comitê investigador, Vladimir Markin.

O "Arctic Sunrise" foi rebocado até a costa russa, depois que alguns ativistas tentaram escalar uma plataforma da gigante russa Gazprom para denunciar o impacto ambiental da exploração de combustíveis no Ártico. O navio do Greenpeace está ancorado neste porto russo e a tripulação, detida em Murmansk (noroeste). O Greenpeace International logo divulgou um comunicado, rejeitando as acusações do comitê investigador, especialmente sobre a presença de entorpecentes.

"Podemos apenas supor que as autoridades russas fazem alusão à valise médica que nossa embarcação deve levar a bordo em conformidade com a legislação marítima", reportou a ONG em um comunicado. "Qualquer afirmação sobre a descoberta de drogas ilegais é difamatória", acrescentou.

"O navio já tinha sido revistado pelos investigadores russos há várias semanas, por isso avaliamos que este anúncio se destina a desviar a atenção da crescente indignação que provoca a detenção da tripulação", declarou também o Greenpeace International.

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Um representante do Greenpeace Rússia, Milhail Kreindlin, considerou "incompreensíveis" as afirmações sobre a descoberta de equipamentos suspeitos de ser de tecnologia "dual". "Podem, por exemplo, afixar pregos com um microscópio", ironizou, ressaltando que nenhum membro da tripulação esteve a bordo desde 24 de setembro. "Nestas condições teriam podido encontrar, inclusive, uma bomba atômica", disse.

O diretor executivo do Greenpeace International, Kumi Naidoo, solicitou um encontro com o presidente russo, Vladimir Putin, para defender os 28 ativistas da ONG ambientalista. "Caro presidente Putin (...) peço uma reunião de urgência", escreveu Naidoo em carta endereçada na quarta-feira à embaixada da Rússia em Haia, segundo comunicado do Greenpeace. Naidoo mostrou-se disposto a viajar à Rússia "o mais rápido possível" para se tornar "garantidor do bom comportamento dos ativistas do Greenpeace, se forem libertados sob fiança".

"O senhor sabe que as acusações de pirataria contra os ativistas apontam para um crime que nunca cometeram", escreveu Naidoo, que pediu que Putin, "como presidente da Rússia, retire estas excessivas acusações de pirataria (...) e liberte imediatamente os dois fotógrafos freelance, que não são membros do Greenpeace".

Consultado pelas agências russas, o porta-voz do presidente Putin, Dimitri Peskov, disse não ter conhecimento desta carta por enquanto. "Não podemos dizer nada sobre o conteúdo da carta, ainda não a vimos", disse Pekov à agência russa Interfax.

O tribunal regional de Murmansk rejeitou nesta quarta o recurso de um ativista do Greenpeace, Roman Dolgov, para a sua libertação. Essa decisão se soma aos recursos de outros três ativistas examinados na terça por este tribunal, que em todos os casos manteve a detenção provisória até 24 de novembro.

O "Arctic Sunrise" tem bandeira holandesa. A Holanda tentou um procedimento jurídico contra a Rússia, denunciando a captura ilegal do barco.