O presidente afegão, Hamid Karzai, criticou com virulência a Otan, acusando a aliança atlântica de ter "causado enorme sofrimento" sem gerar o menor "benefício" a seu país, que não está "seguro". "Queremos uma segurança absoluta, o fim claro do terrorismo", declarou o presidente Karzai em uma entrevista à BBC divulgada na noite desta segunda-feira e realizada no dia 3 de outubro em Cabul.
"Em relação à segurança", a Otan, com forças mobilizadas desde 2001 no Afeganistão, "causou enormes sofrimentos, deixou muitos mortos e não gerou benefício algum, porque o país não está seguro", afirmou.
Ele afirmou que manteve "uma ótima relação" com o presidente americano, George W. Bush, até 2005, data em que "houve os primeiros incidentes envolvendo vítimas civis, quando descobrimos que a guerra contra o terrorismo não era travada onde deveria".
Karzai, que não pode concorrer a um terceiro mandato durante as eleições presidenciais de abril, explicou que seu objetivo é levar "a estabilidade e a paz" a seu país e chegar a um acordo de divisão do poder com os talibãs.
"Onde o presidente afegão, o governo afegão puder nomear talibãs para um posto governamental, eles serão bem-vindos", declarou.
"Mas onde o povo afegão nomear as pessoas, por meio de eleições (...), os talibãs devem participar de eleições", acrescentou. "Para ser claro, (...) Eles são bem-vindos no governo afegão, assim como todos os outros afegãos".
Em relação ao acordo de segurança com os Estados Unidos, que deve definir as modalidades da presença de um contingente americano no Afeganistão depois do final da missão da Otan em 2014, Karzai alertou: "Se este acordo não trouxer paz e segurança ao Afeganistão, os afegãos não querem".
Washington exige, entre outras coisas, imunidade jurídica para seus soldados.
A maior parte dos cerca de 87.000 soldados da Otan deve deixar o Afeganistão até o fim de 2014, o que suscita temores de um aumento da violência em um país assolado pela insurreição dos talibãs, derrubados do poder em 2001.