Cidade do Vaticano - O papa Francisco mostrou-se relativista - inclinado a não dar valor absoluto ao dogma - em sua entrevista ao jornal La Repubblica, consideram especialistas do Vaticano, que detectaram inquietações dos ciclos católicos a respeito dessa liberdade de expressão papal. A coletiva de imprensa convocada nesta quarta-feira (2/10) pelo padre Federico Lombardi para falar sobre o "G8 dos cardeais" e a reforma da Igreja deu lugar a muitas perguntas sobre as condições em que a entrevista foi conduzida pelo fundador ateu do jornal, Eugenio Scalfari, o nível de confiabilidade das declarações do papa e a fidelidade das frases transcritas.
Ele declarou desejar uma Igreja mais engajada socialmente, que dialogue com os não-crentes e livre da corrupção. "É o início de uma Igreja concebida como uma organização não somente vertical, mas também horizontal", explicou o papa na longa entrevista ao jornal La Repubblica. Nesta ocasião, ele lamentou uma "visão muito vaticano-centrada que ignora o mundo ao seu redor", anunciando que fará o possível para mudar isso.
A publicação da entrevista de três páginas concedida a um jornal de esquerda, antes da abertura do "G8" para reavivar a Igreja Católica, é em si uma revolução. Para isso, Francisco recebeu na semana passada na residência Santa Marta o fundador ateu do jornal, Eugenio Scalfari, com quem já havia dialogado em colunas interpostas no La Repubblica, em setembro. Nesta entrevista, o papa e o jornalista discutiram a fé e a descrença, os valores éticos, do clericalismo e do espírito, o marxismo, com espantosa liberdade de tom.
Outras passagens marcantes desta entrevista são a crítica virulenta aos "cortesões da Igreja", e a denúncia do "liberalismo social". "Os maiores males que afligem o mundo são o desemprego dos jovens e a solidão em que os idosos são deixados", disse Francisco, incorporando questões sociais que são queridas para ele. O "liberalismo selvagem" resulta em "tornar o forte mais forte, os fracos mais fracos e os excluídos mais excluídos", denunciou.
O pontífice pediu à Igreja que se comprometa mais com o mundo moderno e afirmou que "os chefes da Igreja geralmente têm sido narcisistas, amantes da adulação e excitados de forma negativa por seus cortesões". "A corte é a lepra do papado", declarou Francisco. O pontificado de Francisco, conservador em relação a obediência à Igreja e a moral, mas radical sobre o desenvolvimento social, continua a ser paradoxal.