Depois de percorrer as avenidas que conduzem ao centro de Cagliari, onde centenas de pessoas se reuniam, o Papa se encontrou em um palco externo instalado em frente ao porto com representantes do mundo do trabalho, entre eles um trabalhador desempregado, uma empresária em crise e um agricultor.
"Aos jovens desempregados, aos que têm um emprego precário, aos empresários e comerciantes com problemas para seguir adiante, expresso minha solidariedade", disse. "É uma realidade que conheço bem pela experiência que tive na Argentina. Por isso digo a vocês: Coragem! Temos que encarar este desafio histórico com solidariedade e inteligência", acrescentou.
Abandonando o discurso preparado, o Papa contou os sofrimentos de sua família, que emigrou para a Argentina no início do século XX.
"Meu pai partiu cheio de sonhos e sofreu a crise de 29. Perderam tudo, não havia trabalho. (...) Falavam disso, senti esse sofrimento, conheço-o bem", confessou.
Durante o encontro, o pontífice também lembrou sua primeira visita, no início de julho, a uma outra ilha italiana, a siciliana Lampedusa, para dar alívio e consolo aos imigrantes ilegais que atravessam o Mediterrâneo em embarcações precárias.
"Mas aqui também vejo sofrimento", reconheceu, ao se referir à crise econômica da Sardenha, marcada por um alto nível de desemprego, que alcança 18% e afeta, sobretudo, os jovens.
Sem trabalho não há dignidade
"Perdoem-me por estas duras palavras, mas onde não há trabalho falta a dignidade", exclamou o Papa.
"Vivemos as consequências de uma decisão mundial, de um sistema econômico que leva a esta tragédia", explicou. "Duas gerações de jovens não têm trabalho, assim o mundo não tem futuro", disse.
"Para defender este sistema idólatra, provocam a queda dos extremos mais frágeis, os idosos, que não têm um lugar nesse mundo. Trata-se de uma eutanásia escondida. Também caem os jovens, que não encontram sua dignidade", acrescentou.
Ao término do encontro, o Papa visitou a igreja de Nossa Senhora da Bonária e presidiu uma missa em frente ao santuário, pronunciando o tradicional Ângelus dominical diante de 350.000 pessoas, segundo a emissora local, enquanto a diocese falava de 100.000 fiéis.
"Bom domingo e bom almoço", concluiu o Papa, aplaudido ao ritmo de "Francisco, Francisco" e depois de ter pedido a proteção da Virgem para "nossos irmãos em dificuldade".
Durante a tarde o pontífice se reuniu com um grupo de pobres e detidos na catedral da cidade e condenou "a instrumentalização da pobreza", inclusive dentro da Igreja.
"Usar Jesus para a vaidade é um pecado grave", exclamou o Papa.
"É a mesma pessoa que conheci quando era o arcebispo de Buenos Aires. Com a mesma humildade, simplicidade e capacidade de comunicação que está revolucionando o mundo", comentou Mauricio Marci, o chefe de governo da cidade de Buenos Aires, que chegou da Argentina para acompanhar a cerimônia acompanhado de um pequeno grupo de argentinos originários da Sardenha.