Lisboa ; Além dos riscos de empobrecimento e aumento da desigualdade, a crise econômica poderá ter um efeito mais duradouro do que os dias de austeridade nos gastos sociais em Portugal: a diminuição e o envelhecimento da população. Por causa da situação econômica, nacionais e estrangeiros deixam o país e as mulheres têm menos filhos.
O site Pordata, da Fundação Francisco Manuel dos Santos, informa que o baixo número médio de filhos por mulher, a taxa de fecundidade, caiu de 1,4 filho em 2008 (ano de início da atual crise econômica) para 1,2 no ano passado.
A tendência de diminuição de filhos é histórica em diversos países e, antes da crise, guardava relação com o desenvolvimento social de Portugal. Os principais fatores eram o planejamento familiar, a maior escolarização e empregabilidade feminina. A redução era compensada com a entrada de imigrantes. Na década passada, a chegada dos estrangeiros em Portugal foi responsável por 94% do ligeiro crescimento populacional ; 38 mil em cerca de 10 milhões de pessoas, segundo o Censo Populacional 2011.
A dinâmica, porém, mudou nesta década. De acordo com o Instituto Nacional de Estatística (INE), nos dois últimos anos a população residente em Portugal foi reduzida em 85 mil pessoas. Além da mortalidade da população idosa, o saldo negativo se explica pela saída dos imigrantes (20 mil no ano passado, cerca 6 mil brasileiros) e pela emigração dos portugueses.
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[SAIBAMAIS]Não há estatística sobre a saída dos portugueses, porque a circulação na União Europeia é livre e nem todo emigrante se registra no consulado no exterior, mas o governo admite que o número de portugueses indo para o estrangeiro cresce devido às dificuldades econômicas. Segundo a Agência de notícias Lusa, o secretário de Estado das Comunidades, José Cesário, aponta França, Suíça e Angola como os principais destinos, inclusive de portugueses na faixa etária de 40 a 50 anos.
A pequena empresária e arquiteta Cristiana Almeida, exemplifica na sua história de vida os fenômenos demográficos de Portugal. Aos 37 anos, casada há sete, ela avalia que não terá filhos. ;Não tive filho antes porque tive uma doença, e, agora que posso ter, a crise não deixa. A situação econômica não permite;, disse à Agência Brasil. Segundo ela, ter filhos em Portugal é bastante oneroso, pois mesmo o atendimento em hospitais públicos exige contrapartida do usuário, e nas escolas do Estado há gastos com livros escolares. ;Ter filho nessa situação é injusto e cruel;, diz lamentando.
Para a demógrafa Maria João Valente Rosa, diretora do Pordata, a situação é ;crítica, mas não ameaçadora. O futuro não é uma fatalidade;, diz ao lembrar que a redução de filhos é uma decisão que tem a ver com o esclarecimento das mulheres; que a redução da população é comum a outros países da Europa; e que a migração pode ser boa em vários aspectos. ;Há pessoas que saem e até enriquecem;, salienta. Conforme a especialista, ;Portugal está de portas abertas para a imigração;, disse antes de lembrar que grandes países como os Estados Unidos ;foram construídos com as pessoas que conseguiu atrair;.
Para a especialista, as mudanças estão associadas ao envelhecimento. A Europa é conhecida como o ;continente grisalho;. De acordo com ela, o avanço da faixa etária força o surgimento de nova visão sobre o envelhecimento, porque muitas pessoas continuam produtivas e estão no auge do conhecimento profissional.