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Ban Ki-moon acusa Assad de ter 'cometido vários crimes contra a Humanidade'

Esta declaração ofuscou as negociações entre os chefes da diplomacia americana e russa, que prosseguem pelo segundo dia consecutivo em Genebra

Genebra - O secretário-geral das Nações Unidas, Ban Ki-moon, acusou nesta sexta-feira (13/9) o presidente sírio, Bashar al-Assad, de ter "cometido vários crimes contra a Humanidade", enquanto Rússia e Estados Unidos continuavam suas negociações sobre o controle internacional do arsenal químico sírio.

A declaração de Ban ofusca o diálogo entre os chefes da diplomacia dos Estados Unidos e da Rússia, em seu segundo dia consecutivo de reuniões em Genebra. Ambos trabalham com a expectativa de que um avanço no controle de armas químicas facilitará a realização de uma conferência de paz.

Em Nova York, Ban Ki-moon declarou que o relatório dos especialistas da ONU confirmará "de maneira conclusiva a utilização de armas químicas" na Síria, mas não atribuiu a responsabilidade diretamente ao regime sírio. Ainda assim, foi claro ao acusar o presidente Bashar al-Assad de ter "cometido vários crimes contra a Humanidade" e disse estar "convencido de que os responsáveis prestarão contas, quando tudo tiver acabado".

O informe dos especialistas da ONU - que investigaram em campo as acusações do massacre com armas químicas em 21 de agosto passado, no subúrbio de Damasco - deve ser divulgado na próxima segunda-feira, de acordo com o governo francês. Seu mandato não prevê, porém, que os autores do ataque sejam apontados.

Em Genebra, o secretário de Estado dos Estados Unidos, John Kerry, disse estar determinado, junto com o ministro russo das Relações Exteriores, Serguei Lavrov, a "trabalhar em conjunto, começando pela iniciativa sobre as armas químicas, com a esperança de que os esforços tragam resultados e contribuam com paz e estabilidade para esta região".

"Ambos concordamos [...] em nos reunir novamente em Nova York, mais ou menos quando for realizada a Assembleia Geral da ONU, perto do dia 28, para ver se é possível encontrar uma data para essa conferência" de paz sobre a Síria, acrescentou.

Depois de uma reunião da qual também participaram os enviados das Nações Unidas e da Liga Árabe para a Síria, Lavrov reafirmou o compromisso da Rússia em favor de uma conferência de paz. Ele pediu que "todos os grupos da sociedade síria estejam representados".

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"As partes sírias devem chegar a um consenso sobre o órgão de governo de transição que disporá de toda a autoridade", insistiu.

Lakhdar Brahimi está encarregado da preparação da conferência internacional "Genebra 2" para encontrar uma solução política para o conflito sírio, que já deixou mais de 110 mil mortos. Sua missão está bloqueada há vários meses, porém, devido à falta de consenso internacional.

A Coalizão Nacional opositora síria, reunida por dois dias em Istambul para tentar formar um governo provisório, considerou nesta sexta que as "promessas do regime sírio" para deixar suas armas químicas sob controle internacional "são apenas novas tentativas para enganar a comunidade internacional e impedi-la de punir o regime por seus crimes".

França reforça ajuda à oposição

O presidente francês, François Hollande, e os chefes da diplomacia saudita, jordaniana e dos Emirados Árabes chegaram a um "acordo sobre a necessidade de se reforçar o apoio internacional à oposição democrática" na Síria "para permiti-la enfrentar os ataques do regime" - anunciou a presidência francesa nesta sexta.

O porta-voz do Eliseu não deu maiores detalhes sobre esse reforço. Até o momento, a França tem enviado somente material não letal para a oposição, mas vários países do Golfo já estariam entregando armas.

Na quinta-feira, o presidente sírio se comprometeu a enviar para as Nações Unidas os documentos para aderir à Convenção Internacional para a Proibição de Armas Químicas, mas com condições. Segundo Assad, os Estados Unidos devem parar de "ameaçar" o país com uma intervenção militar e de "entregar armas" aos rebeldes.

O presidente russo, Vladimir Putin, disse nesta sexta que essa decisão da Síria é um "passo importante" para uma solução da crise no país. "Acho que devemos comemorar essa decisão do governo sírio", declarou, em uma cúpula regional no Quirguistão.

Na edição desta sexta, entretanto, o americano "The Wall Street Journal" afirma que o regime sírio começou a espalhar seu arsenal químico por 50 lugares diferentes para complicar os trabalhos de controle.

As discussões em Genebra, iniciadas na quinta-feira e com previsão de durar pelo menos dois dias, concentram-se na melhor maneira de colocar as armas químicas da Síria sob controle internacional. Pretendem ainda evitar uma possível intervenção militar de Estados Unidos e França em represália ao massacre com armas químicas, pelo qual os americanos culpam Assad.

As primeiras conversas de quinta-feira transcorreram em um clima "construtivo" - disseram à AFP representantes do governo americano que acompanharam a reunião.

Em relatório publicado nesta sexta em Beirute, a ONG Human Rights Watch afirma que as forças do regime sírio executaram pelo menos 248 pessoas em dois povoados sunitas da província litorânea de Tartous, nos dias 2 e 3 de maio.