Estados Unidos e Rússia realizavam nesta quinta-feira (12/9), em Genebra, negociações cruciais sobre a Síria, pouco depois de o presidente sírio, Bashar al-Assad, ter se comprometido a submeter seu arsenal químico ao controle internacional, mas com condições.
Assad quer que Washington pare de ameaçar seu governo e de fornecer armas aos rebeldes.
O secretário de Estado dos Estados Unidos, John Kerry, e o ministro russo das Relações Exteriores, Serguei Lavrov, prometeram resultados após seu encontro. "Vamos trabalhar para chegar a um acordo de princípios com o objetivo de resolver, de uma vez por todas, o problema das armas químicas na Síria, por meio da adesão da Síria à Convenção para a Proibição das Armas Químicas (...) Partimos do princípio de que a solução deste problema torna inútil um ataque à Síria", declarou Lavrov, em entrevista coletiva antes da reunião, ao lado de Kerry.
"Consideramos que as palavras do regime sírio, sinceramente, não são suficientes. Por isso, viemos aqui: para trabalhar com os russos", afirmou Kerry. "As expectativas são grandes (...) Juntos, vamos testar a capacidade do regime de cumprir suas promessas. Estamos decididos a ter um encontro com substância", garantiu Kerry.
Ambos iam se reunir pouco depois de o presidente Bashar Al-Assad ter se comprometido a entregar seu arsenal químico e a assinar a Convenção contra as Armas Químicas, mas com condições.
"Quando virmos que os Estados Unidos realmente querem estabilidade na nossa região e (quando) deixarem de ameaçar e tentar invadir, e também deixarem de fornecer armas aos terroristas, então poderemos acreditar que podemos continuar com o processo", declarou Al-Assad em entrevista ao canal público russo Rossia 24.
"Em alguns dias, a Síria enviará uma mensagem à ONU e à Organização para a Proibição das Armas Químicas que conterá os documentos técnicos necessários para firmar a Convenção", acrescentou o presidente sírio.
Quase ao mesmo tempo, a ONU anunciava ter recebido "um documento do governo da Síria" para a "adesão" desse país à Convenção para Proibição de Armas Químicas. Assinada em 1993 em Paris e em vigor desde 1997, a Convenção proíbe a fabricação, o armazenamento e a utilização de armas químicas.
Assad esclareceu que Damasco aceita colocar suas armas químicas sob controle internacional "por causa da Rússia" e disse que "as ameaças dos Estados Unidos não tiveram influência nessa decisão".
Horas antes, Washington disse esperar que o regime sírio "declare o quanto antes" o tamanho e as características de seu arsenal químico como sinal de seu compromisso, declarou um funcionário de alto escalão do Departamento de Estado, que acompanha Kerry na viagem.
O presidente americano, Barack Obama, manifestou sua "esperança de que as negociações (...) possam produzir resultados concretos".
As discussões, das quais participam especialistas em desarmamento, concentram-se inicialmente em como colocar o arsenal químico sírio sob controle internacional, uma proposta apresentada por Moscou na segunda-feira e que afasta a ameaça de ataques ocidentais ao regime de Damasco.
Segundo o jornal russo "Kommersant", o plano de controle das armas químicas na Síria inclui quatro etapas, que começariam com a adesão de Damasco à Organização para a Proibição de Armas Químicas (Opaq). Em seguida, a Síria deverá declarar a localização de seu arsenal químico e o lugar onde é fabricado. O terceiro passo é autorizar os inspetores da Opaq a realizar vistorias nesses lugares para decidir, junto com os investigadores, como destruir as reservas químicas sírias. Segundo especialistas, são pelo menos mil toneladas.
;Rejeição categórica; dos rebeldes
Na véspera destas discussões, o presidente russo, Vladimir Putin, declarou que recorrer ao uso da força na Síria à margem do Conselho de Segurança da ONU seria "inaceitável" e "constituiria uma agressão".
O presidente russo também atribuiu aos rebeldes sírios a responsabilidade pelo ataque químico de 21 de agosto perto de Damasco, que deixou centenas de mortos. Os países ocidentais acusam o regime sírio pelo massacre.
As negociações de Genebra significam a tentativa de recuperar a via diplomática no conflito da Síria e pretendem evitar uma intervenção militar de Estados Unidos e França, em represália ao massacre de 21 de agosto. Em dois anos e meio de duração, o conflito já acumula mais de 110 mil mortos.
A ONU ainda investiga as mortes, e seu relatório deve ser publicado "provavelmente na segunda-feira", declarou o ministro francês das Relações Exteriores, Laurent Fabius.
Já o general do Exército Sírio Livre (ESL, formado pelos "rebeldes"), Selim Idriss, rejeitou o plano russo, por considerá-lo insuficiente. A Coalizão Nacional Síria (de oposição) classificou a iniciativa russa de "manobra política, destinada a fazer Assad ganhar tempo".
Segundo uma fonte do Departamento de Estado, Kerry se reuniu nesta quinta com o general Idriss e com o chefe da Coalizão Nacional Síria, Ahmad Jarba. Para ambos, Kerry garantiu que os Estados Unidos ainda não descartaram totalmente a opção militar.
Em Genebra, Kerry também se reuniu com o enviado especial da Liga Árabe e da ONU para a Síria, Lakhdar Brahimi.
Lavrov disse esperar que o encontro com Kerry permita relançar a conferência Genebra-2 que, há meses, ONU, Washington e Moscou tentam organizar para colocar o regime sírio e a oposição na mesa de negociações.