Washington - Diversos países preparavam nesta terça-feira (10/9) um projeto de resolução para submeter as armas químicas da Síria ao controle internacional, enquanto o governo dos Estados Unidos mantém as ameaças de ações militares contra o regime de Bashar al-Assad.
O presidente americano, Barack Obama, e seus homólogos da França, François Hollande, e do Reino Unido, David Cameron, decidiram examinar na ONU a proposta russa sobre as armas químicas sírias.
O secretário de Estado americano, John Kerry, viajará na quinta-feira (12/9) a Genebra para se reunir com o ministro das Relações Exteriores russo, Serguei Lavrov, com o objetivo de abordar a crise síria, disse um alto funcionário à AFP.
Uma reunião de emergência do Conselho de Segurança da ONU, convocada pela Rússia e originalmente prevista para as 20h GMT (17h de Brasília), foi adiada, informaram fontes diplomáticas.
Diplomatas franceses, britânicos e americanos iniciaram nesta terça "reuniões informais" sobre um projeto de resolução francês, mas a previsão é de que as negociações serão difíceis. Já a Síria anunciou nesta terça-feira (10/9) que está disposta a mostrar suas armas químicas.
Nós estamos dispostos a anunciar onde estão as armas químicas, suspender a produção das armas químicas e mostrar as instalações aos representantes da Rússia, de outros países e da ONU", declarou o ministro das Relações Exteriores da Síria, Walid Mouallem, em declarações à agência de notícias russa Interfax.
A Rússia enviará nesta terça detalhes de sua proposta sobre a Síria aos Estados Unidos, indicou Kerry, poucas horas depois de ressaltar que Washington não vai esperar "por muito tempo".
Kerry afirmou que o regime de Bashar al-Assad controla cerca de 1.000 toneladas de inúmeros agentes químicos, incluindo o gás sarin e o gás mostarda.
Embora parte desse arsenal esteja em "forma binária" e deva ser misturado antes do uso, o governo possui também munições, principalmente com sarin, explicou o secretário de Estado diante de uma comissão do Congresso.
Em Moscou, o ministro russo das Relações Exteriores, Serguei Lavrov, que ganha um protagonismo na crise cada vez maior, reuniu a imprensa para dar detalhes sobre a iniciativa que não é "totalmente" russa, esclareceu.
"Surgiu dos contatos que tivemos com nossos colegas americanos, das declarações de ontem de John Kerry, que ofereceu a possibilidade de evitar os ataques se esse problema pudesse ser solucionado", explicou.
Os diplomatas russos "trabalham atualmente na elaboração de um plano concretizável" e "estamos dispostos a abordá-lo com o secretário-geral da ONU, com os membros do Conselho de Segurança das Nações Unidas, com a Organização para a Proibição de Armas Químicas", acrescentou Lavrov.
A ameaça "deve ser mantida"
A França anunciou nesta terça um projeto de resolução sob o capítulo 7 da Carta das Nações Unidas, que autoriza um recurso à força, afirmou o ministro francês das Relações Exteriores, Laurent Fabius.
O projeto estabelece que "se exija que o regime sírio esclareça rapidamente seu programa de armas químicas, que o deixe sob controle internacional e que seja desmantelado", indicou.
Também tem por objetivo criar "um dispositivo completo de inspeção e de controle de suas obrigações sob a supervisão da Organização para a Proibição das Armas Químicas (OPAQ)", acrescentou Fabius.
Mas Lavrov afirmou nesta terça que a proposta francesa é "inaceitável".
Enquanto isso, os altos membros da diplomacia americana e do Pentágono reiteraram que a ameaça militar sobre o regime sírio deve continuar para mante a pressão sobre Damasco, obrigando o regime a entregar suas armas químicas.
A "ameaça real e crível de uma ação militar dos Estados Unidos deve ser mantida", disse o secretário de Defesa, Chuck Hagel. Kerry também afirmou que "nada mudou" em relação ao apelo de Obama para que o Congresso aprove um ataque militar limitado contra a Síria.
Apesar disso, o presidente russo, Vladimir Putin, indicou que a iniciativa terá êxito apenas "se os americanos e todos aqueles que os apoiam desistirem de recorrer à força".
Contatos diplomáticos
A proposta de Moscou desencadeou uma intensa atividade diplomática, mas a oposição síria chamou a proposta de "manobra russa" e exortou a comunidade internacional a não limitar a crise à questão das armas químicas.
"Há massacres, mais de 100.000 mortos, milhões de deslocados e refugiados, 200.000 presos torturados diariamente", denunciou Monzer Majous, embaixador da Coalizão Nacional Síria na França.
Já as monarquias do Golfo indicaram ao término de uma reunião de chanceleres que a proposta russa "não vai impedir o derramamento de sangue dos sírios".
O projeto russo também encontrou apoio no Irã, principal aliado da Síria junto com a Rússia, e da China.
"Queremos que nossa região se livre de todas as armas de destruição em massa. (...) Esses esforços devem também ser destinados às armas químicas que os grupos rebeldes sírios têm em seu poder", declarou Marzieh Afgham, ministro iraniano das Relações Exteriores.
A União Europeia (UE) manifestou nesta terça-feira (10/9) o seu "interesse" pela proposta russa, mas quer garantir que seja uma iniciativa "séria".