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Crise na Síria invade agenda da cúpula do G20, em São Petersburgo

Putin atende assim aos pedidos de alguns participantes para que sejam discutidos "outros problemas da política internacional, em particular a situação na Síria"



[SAIBAMAIS]Obama espera a autorização do Congresso, que retoma seus trabalhos segunda-feira, para intervir militarmente na Síria. Já o presidente francês, François Hollande, espera "avanços políticos" do G20, apesar das divergências com alguns países. A decisão de Obama dividiu profundamente a comunidade internacional, revivendo os fantasmas da Guerra Fria. Rússia e China encabeçam a extensa lista de opositores a uma intervenção militar na região, que é por si só explosiva. Os Estados Unidos "estariam permitindo uma agressão porque tudo que está fora do marco do Conselho de Segurança das Nações Unidas é uma agressão, a menos que seja em legítima defesa", alertou o presidente russo na quarta. Para a China, o "único caminho" para resolver a crise é uma solução política. Os chineses recomendam "prudência" aos líderes mundiais, segundo um porta-voz da delegação chinesa em São Petersburgo. No Vaticano, o papa Francisco demonstrou seu empenho em fazer pressão contra uma intervenção militar na Síria ao enviar uma carta endereçada a Vladimir Putin e convocar os embaixadores do mundo inteiro.

Em sua carta dirigida a Putin em sua qualidade de presidente do G20, que se reúne nesta quinta e na sexta-feira em São Petersburgo, o Papa fala da situação econômica e social no mundo, condena as "matanças inúteis" no Oriente Médio e faz um apelo contra qualquer tipo de solução armada na Síria, segundo indicou o porta-voz do Vaticano, Federico Lombardi. A Síria tem dominado as acaloradas discussões diplomáticas e bilaterais nos corredores dos hotéis de São Petersburgo, poucas horas antes do início do encontro entre chefes de Estado e de Governo dos países mais ricos e emergentes.

"Sei que a Síria está na cabeça de todos", admitiu o presidente da Comissão Europeia, José Manuel Barroso. As reuniões devem prosseguir nas próximas horas. Obama se reunirá com François Hollande, que já conversou com a chanceler alemã, Angela Merkel. Merkel, que já indicou que seu país não participará de nenhuma coalizão contra a Síria, ressaltou que "a guerra deve acabar, e isso só acontecerá politicamente".

Contudo, não há previsão de um encontro entre Putin e Obama. Os dois líderes cumprimentaram-se esta tarde com um aperto de mão no Palácio Constantino, na ilha Strelna, 15 km ao sudeste da antiga capital imperial russa. As relações entre Rússia e Estados Unidos estão estremecidas desde que Moscou concedeu asilo político ao ex-consultor da Agência Nacional de Segurança (ANS) americana, Edward Snowden, que revelou a existência de um programa de espionagem. Também são esperados para a cúpula do G20 o mediador internacional da Liga Árabe e da ONU para a Síria, Lakhdar Brahimi, e o secretário-geral das Nações Unidas, Ban Ki-moon, para promover uma conferência de paz.

"Brahimi participará da cúpula do G20", anunciou o chanceler russo Serguei Lavrov, que se reunirá nesta sexta-feira com seus colegas G20, segundo as agências russas.

Fora de São Petersburgo, a questão da Síria também será tratada entre sexta-feira e sábado pelos ministros das Relações Exteriores da União Europeia na capital lituana, Vilnius, para que a região possa chegar a uma posição comum. A guerra civil na Síria causou mais de 100.000 mortes em dois anos e meio, e deixou mais de seis milhões de pessoas deslocadas, incluindo dois milhões de refugiados, segundo a ONU. A Síria tem ofuscado no G20 os países emergentes, que passam por uma turbulência devido à fuga de capitais provocada pelo iminente fim da política de estímulos monetários do Federal Reserve americano para combater a crise financeira.

O BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) fizeram um apelo aos países ricos para que coordenem as políticas de combate à crise para evitar turbulências financeiras que prejudiquem seu crescimento e que desvalorizem suas moedas.