Londres - A relação especial com os Estados Unidos, que levou a Grã-Bretanha a várias campanhas militares conjuntas, ficou em suspenso pela recusa do Parlamento britânico a aprovar a participação em um ataque à Síria. Além das implicações gerais para o país, a votação de quinta-feira (29/8) representa o pior revés sofrido pelo primeiro-ministro David Cameron em três anos de mandato. Cameron insistiu nesta sexta-feira (30/8) que é necessário oferecer "uma resposta contundente" ao regime sírio pelo suposto uso de armas químicas contra a população civil em 21 de agosto, mas o ministro da Economia, George Osborne, fez um convite ao país.
[SAIBAMAIS]A negativa do Parlamento "menospreza enormemente nosso país", afirmou na BBC o veterano líder dos liberais e ex-representante da ONU para a Bósnia. "Temos este monte de gente - os mesmos que votaram contra na noite passada - que deseja nos tirar da Europa e se atacaram nossa relação com os Estados Unidos", completou, em referência aos conservadores que se uniram à oposição. O professor Michael Clarke, do órgão de debate Royal United Services Institute, explicou que a cooperação militar anglo-americana prosseguirá. "Mas não estaremos lá disparando nossos mísseis de cruzeiro, se é que isto vai acontecer, e há um grande simbolismo político nisto". "Esta votação significa que o Reino Unido se une aos países de terceiro escalão, condenados a ser prisioneiros dos acontecimentos e não a modelá-los", advertiu Alan Mendoza, diretor executivo da Sociedade Henry Jackson, outro organismo de debate.
"Só porque o presidente (Barack) Obama decidiu - equivocadamente, na minha opinião -, disparar mísseis contra a Síria, não temos que trotar obedientemente como um poodle sempre leal", escreveu, do outro lado do campo político, Stephen Glover, colunista do Daily Mail. A moção do governo que abria a porta para a participação britânica em um ataque contra a Síria foi rejeitada por 285 votos a 272. A coalizão de governo conservadora-liberal conta com 359 das 650 cadeiras da Câmara dos Comuns. Outro fator que contribuiu para reduzir o espírito bélico da opinião pública e do Parlamento foi o corte no orçamento do exército, que atualmente não tem nem sequer um porta-aviões e perderá 20.000 soldados até 2020. Os cortes foram citados pelo novo embaixador americano em Londres, Matthew Barzun, durante a audiência de confirmação no Senado, em julho. "Nós nos comprometemos a trabalhar para garantir que mantenham a capacidade, que continuem operacionais ao nosso lado", disse Barzum.