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Parlamento britânico rejeita moção do governo para atacar Síria

Londres - O Parlamento britânico rejeitou de forma surpreendente nesta quinta-feira (29/8) uma proposta do governo de David Cameron que abria a porta para uma resposta militar contra o regime sírio por ter supostamente recorrido a armas químicas.

A oposição e vários deputados da coalizão governamental liberal-conservadora se uniram para derrotar a proposta do governo, embora o texto tenha chegado bastante suavizado ao Parlamento.

"Está claro que o Parlamento britânico não quer uma ação militar britânica", disse Cameron após a votação. "E o governo atuará em consequência disso", acrescentou.

A moção do governo foi rejeitada por 285 deputados e aprovada por 272. A rejeição não veio apenas da oposição, mas da própria coalizão governamental, que conta com 359 dos 650 assentos da Câmara dos Comuns. O resultado foi saudado com uma estrondosa ovação dos deputados, posteriormente repreendidos pelo presidente da Casa.

A Câmara dos Comuns se reuniu de urgência para discutir o texto do governo que abria caminho para o uso da força se ficasse comprovada a responsabilidade do regime sírio no ataque. Segundo a oposição síria, foram centenas de mortos.

No debate, houve muitas referências à invasão do Iraque em 2003, que terminou com a queda de Saddam Hussein, mas sem que houvesse provas da existência de armas de destruição em massa que serviram de justificativa para uma ação aprovada pelo então primeiro-ministro Tony Blair.

"A guerra do Iraque" e "o modo como se manipulou a informação de inteligência tornarão mais difícil para os governos tomar medidas no futuro", avisou Michael Howard, ex-líder dos conservadores, durante o debate.

Cameron admitiu que não está convencido de que o regime de Bashar al-Assad foi responsável pelo ataque químico de 21 de agosto. "Não há 100% de certeza sobre quem é o responsável" pelo ataque de 21 de agosto, disse.

"Não existe uma prova de inteligência determinante", continuou. "Mas acho que podemos estar tão seguros, quanto é possível estar, quando se trata de um regime que usou armas químicas em 14 ocasiões, que é, muito provavelmente, responsável por esse ataque em larga escala; que, se não se fizer nada, se chegará à conclusão de que se pode usar essas armas novamente em larga escala, com total impunidade", completou.