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Cristãos do Oriente se unem contra 'catástrofe' de ataque militar na Síria

As igrejas do Oriente Médio se juntaram ao papa Francisco, pois consideram que separados não serão ouvidos de maneira suficiente

Cidade do Vaticano - As Igrejas do Oriente Médio, alarmadas com a situação dos cristãos e excepcionalmente unidas, se associaram ao papa Francisco para rejeitar qualquer intervenção militar na Síria, considerando que será ainda pior que a experiência calamitosa do Iraque há 10 anos. No domingo passado, Francisco fez um apelo para "calar o ruído das armas" na Síria. "Não é o confronto o que oferece perspectivas de esperança para resolver os problemas, e sim a capacidade de reunir-se e dialogar", disse o pontífice.

Os patriarcas do Oriente consideram que separados não serão ouvidos de maneira suficiente. Eles esperam que Francisco volte a falar e que seja ouvido pelas capitais ocidentais. O Vaticano, com o jornal Osservatore Romano e sua rádio, insiste em divulgar o medo dos cristãos do Oriente, que temem as consequências da violência do islamismo radical. Na última edição do Osservatore Romano, o cardeal Leonardo Sandri, prefeito para as Igrejas Orientais, dirigiu uma súplica para que o "interesse superior da paz e da vida prevaleça acima de qualquer outro interesse".



[SAIBAMAIS]Os cristãos do Oriente apoiaram em sua maioria os regimes autoritários e laicos - Saddam Hussein no Iraque, a dinastia Assad na Síria -, que protegiam seus direitos e garantiam a segurança. Desde a queda de Saddam Hussein, em 2003, centenas de milhares de cristãos foram obrigados a abandonar suas cidades. No conflito sírio, maioria dos cristãos manifesta apoio a Bashar al-Assad por medo da alternativa islamita. "O medo dos cristãos de um ataque militar se baseia na história dos últimos 10 anos", afirma o vaticanista Marco Politi.

"A evolução do Iraque mostrou como pode desestruturar-se um país que tinha, certamente, um ditador, mas que era laico", destaca Politi. "A guerra de religião entre muçulmanos se agravou, o terrorismo se expadiu e a situação dos cristãos piorou". "O mesmo vai acontecer na Síria, pois a oposição mais eficaz é a dos jihadistas. Não se pode ser ingênuo e irresponsável, como alguns filósofos que falam do dever de atuar", completa. De Jerusalém a Aleppo, de Beirute a Bagdá, os patriarcas das igrejas implantadas desde o início do cristianismo denunciam a perspectiva de ataques ocidentais.

O mais enfático é Louis Raphael Sako, patriarca dos caldeus do Iraque, para quem um ataque americano "fará explodir um vulcão destinado a arrastar Iraque, Líbano e Palestina". O bispo da cidade síria de Aleppo, Antoine Audo, cita o risco de uma "guerra mundial" e o patriarca maronita Bechara Boutros Rai acusa alguns países, "sobretudo do Ocidente, mas também do Oriente", de "fomentar todos os conflitos". "Estamos vendo a destruição total do que os cristãos conseguiram construir durante 1.400 anos de convivência com os muçulmanos", disse Boutros Rai.

O patriarca sírio-católico Yousef III Yunan acusa as potências estrangeiras "armar os rebeldes, incitar a violência e envenenar as relações entre sunitas e xiitas". "O Ocidente pensa que com os sunitas no poder, a democracia vai substituir a ditadura, mas é uma grande ilusão", afirmou. Os patriarcas destacam que os ocidentais não parecem interessados em aguardar as conclusões da investigação da ONU e recordam que, há 10 anos, invadiram o Iraque alegando a existência de armas d