BUENOS AIRES - Dirigentes opositores anteciparam seu apoio ao projeto de lei de reabertura da troca da dívida da Argentina, que a presidente Cristina Kirchner apresentará nesta terça-feira (27/8) no Congresso, em uma trégua na dura disputa política a dois meses de eleições legislativas cruciais.
"O projeto de lei será levado ao Congresso nesta terça-feira, ainda não se sabe a que horas, e será um tema de tratamento ;express;", disse à AFP uma fonte da equipe econômica que pediu anonimato.
Kirchner anunciou na segunda-feira que estimulará, pela terceira vez, uma troca da dívida que ainda está em default, para 7% dos credores, incluindo os chamados fundos especulativos que não entraram nas negociações anteriores. A presidente também anunciou que se dispõe a pagar na Argentina as dívidas que até agora estavam sendo pagas em Nova York.
A iniciativa oficial foi lançada após um decisão contrária da Câmara de Apelações de Nova York que deu razão aos fundos, chamados de ;abutres; por Buenos Aires, já que compraram a dívida já em default, que pedem à Argentina o pagamento à vista de cerca de 1,4 bilhão de dólares.
Ricardo Gil Lavedra, presidente do bloco de deputados da União Cívica Radical social-democrata, a segunda força no Congresso, antecipou que seu partido "não vai dificultar" o tratamento parlamentar da iniciativa oficial, apesar de considerar tardia a reabertura da troca da dívida.
Leia mais notícias em Mundo
"É preciso votar a favor, dar este instrumento (ao governo), para que este problema possa ser resolvido", disse o deputado Oscar Aguad, do mesmo partido, em declarações a Radio 10.
Em similar sintonia, Federico Pinedo, deputado do Pro (direita) considerou "razoável demonstrar vontade de cumprimento da dívida". "Me parece bom que seja reaberta a troca", acrescentou.
"Temos a melhor predisposição para debater esta iniciativa, apesar é necessário conhecer a forma em que será regulamentada para definir o voto", disse o jornalista dissidente Enrique Thomas.
A possibilidade de mudar o local dos pagamentos a Buenos Aires para evitar possíveis embargos foi criticada pelo ex-ministro da Economia, Roberto Lavagna, que realizou a operação de troca de títulos em 2005 durante o mandato de Néstor Kirchner (2003/2007), mas depois passou à oposição.
"A ideia de pagar na Caja de Valores é duvidosa em um país onde existe um controle de mudanças muito arbitrário: ninguém sabe quando vão lhe dar ou não os dólares; hoje não há uma regra clara nesse sentido", alertou Lavagna.
A decisão final após a da Câmara de Apelações de Nova York agora está nas mãos da Suprema Corte dos Estados Unidos.
"A chance de que o caso ser aceito na Corte dos Estados Unidos é muito pequena, mas não é zero, pelo impacto que pode ter sobre o mercado de Nova York", disse à AFP a especialista Marina Dal Poggetto, do Estudo Miguel Bein e Associados.
Dal Poggetto considerou que a iniciativa oficial constitui "um gesto mais político que efetivo" e acrescentou que "houvesse sido mais eficaz ter feito a proposta em outubro de 2012", antes da decisão inicial em EUA.
Kirchner disse que está litigando apenas 0,45% de 7% de credores que não entraram nas trocas de 2005 e 2010, quando a Argentina renegociou a dívida declarada em default em 2001 por 90 bilhões de dólares com um perdão médio de 67%.
Aldo Pignanelli, ex-presidente do Banco Central e opositor ao governo, pediu apoio ao projeto de lei por ser "um tema de soberania nacional, um tema de Estado".
Ao rejeitar que a Argentina seja um "devedor recalcitrante", como qualificou o país um tribunal norte-americano, a chefe de Estado afirmou que entre 2003 e 2012, o país sul-americano pagou 173,733 bilhões de dólares, dos quais o US$81.487 ao setor privado e aos organismos multilaterais de crédito.
Kirchner ratificou, além disso, o pagamento em dólares no dia 12 de setembro de um vencimento de US$2 bilhões com fundo do Banco Central, cujas reservas sobem a 36,924 bilhões de dólares.
Alguns setores opositores com representação minoritária no Congresso anteciparam seu voto negativo à reabertura de uma terceira troca.
O respaldo majoritário da oposição, apesar das críticas, acontece a dois meses da realização de eleições legislativas chaves, a metade do mandato da presidente Kirchner.
O governo sofreu uma derrota no dia 11 de agosto nas primárias para selecionar os candidatos às parlamentares do dia 27 de outubro.
O peronismo tem maioria em ambas as câmaras do Congresso para aprovar sua iniciativa de reabertura da troca.