Agência France-Presse
postado em 27/08/2013 09:39
Damasco - O governo sírio, acusado pela comunidade internacional de ter bombardeado com armas químicas uma área controlada por rebeldes, prometeu nesta terça-feira (27/8) defender-se de um eventual ataque ocidental, que é cogitado por alguns dirigentes da comunidade internacional. Segundo o governo de Bashar al-Assad, os especialistas da ONU que investigam um suposto ataque com armas químicas suspenderam as tarefas até quarta-feira, ante a falta de garantias dos rebeldes."Temos duas opções: rendição ou defesa com os meios que temos. A segunda alternativa é a melhor: nos defenderemos", declarou o ministro das Relações Exteriores do país, Walid Mualem. "Atacar a Síria não é um assunto fácil. Dispomos de meios defensivos que surpreenderão os demais", disse Mualem, que reafirmou que a Rússia não abandonará o país.
Ao mesmo tempo, Muallem afirmou que um ataque ocidental não afetaria a campanha militar de Damasco contra os rebeldes. "Se acreditam que assim poderão impedir a vitória de nossas Forças Armadas, se enganam", afirmou em entrevista coletiva em Damasco.
[SAIBAMAIS]Ele também desafiou a comunidade internacional a apresentar provas de um ataque químico. "Escutamos os tambores da guerra ao redor de nós. Se querem executar um ataque contra a Síria, penso que o pretexto das armas químicas não é válido para nada. Eu os desafio a mostrar as provas", disse o ministro.
Visita cancelada
A ONU confirmou que adiou uma nova visita de seus especialistas em armas químicas em uma área próxima a Damasco por razões de segurança. Depois do ataque de franco-atiradores na segunda-feira (26/8), a visita desta terça-feira "deve ser adiada por um dia para para melhorar a preparação e a segurança da equipe", assinalou o porta-voz das Nações Unidas, Farhan Haq.
A imprensa americana afirma que nos próximos dias fontes da inteligência dos Estados Unidos devem revelar informações que confirmariam a acusação de que Damasco usou armas químicas em 21 de agosto. Segundo a oposição, o ataque em Moadamiyat al-Sham e Ghuta Oriental, zonas controladas pelos rebeldes ao oeste e leste de Damasco, deixou quase 1.300 mortos.
O primeiro-ministro britânico, David Cameron, anunciou nesta terça-feira no Twitter ter convocado o Parlamento na quinta-feira com o objetivo de votar sobre uma resposta do Reino Unido aos ataques com armas químicas na Síria. O presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, estuda a possibilidade de um ataque à Síria que deve ser breve e limitado, afirma a imprensa americana.
A opção militar preocupa a Rússia, que pediu prudência. "As tentativas de usar o Conselho de Segurança (da ONU), de criar mais uma vez pretextos artificiais e sem fundamentos para uma intervenção militar na região causarão mais sofrimento na Síria e terão consequências catastróficas para os outros países do Oriente Médio e do norte da África", afirma um comunicado do ministério das Relações Exteriores.
O ministério russo reiterou ainda uma grande decepção com a decisão dos Estados Unidos de adiar uma reunião prevista com a Rússia em Haia sobre a crise na Síria. O governo dos Estados Unidos tem poucas esperanças de obter a autorização do Conselho de Segurança da ONU em função da intransigente oposição da Rússia. "Na Síria foram utilizadas armas químicas", disse na segunda-feira o secretario de Estado americano John Kerry, sem designar claramente quem usou o armamento.
Um eventual ataque não duraria mais de dois dias e evitaria um envolvimento maior dos Estados Unidos na guerra civil que a Síria vive desde março de 2011, destaca o jornal Washington Post, que cita fontes do governo que pediram anonimato.
Washington poderia ordenar um ataque com mísseis de cruzeiro a partir de frota posicionada no Mediterrâneo, afirma o jornal New York Times. A intervenção seria pontual e não buscaria a derrubada do presidente Bashar al-Assad nem a mudança de curso da guerra civil na Síria, completa o NYT.
Na segunda-feira, os especialistas, que trabalham em "circunstâncias muito difíceis", visitaram dois hospitais e conversaram com "testemunhas, sobreviventes e médicos e também conseguiram recolher amostras", afirmou o secretário-geral da ONU, o sul-coreano Ban Ki-moon.