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Mais de 1.300 pessoas morreram no ataque químico na periferia de Damasco

Um dirigente da oposição síria, afirmou que a chacina representa um golpe de misericórdia nas esperanças de achar uma solução política para o conflito na Síria

Beirute - A oposição síria acusou a comunidade internacional de ser cúmplice, pelo silêncio, do ataque com armas químicas realizado pelo regime sírio na periferia de Damasco, o que teria causado a morte de mais de 1.300 pessoas. O ataque provocou uma onda de condenações internacionais. O regime de Damasco e o exército negaram categoricamente o uso de armas químicas nesta região, evocando alegações "infundadas".



A Rússia, um dos mais fieis aliados dor egime de Bashar al Assad, considerou nesta quarta-feira que a denúncia de utilização de armas químicas por parte das autoridades sírias é uma provocação. "Tudo isso nos faz pensar que estamos de novo diante de uma provocação planejada de antemão", indicou o ministério russo das Relações Exteriores em um comunicado.

A Agência de notícias Sana descreveu as ações do exército nesta quarta como "operações contra grupos terroristas", nas quais morreram "vários deles". Mas o chefe da oposição síria exigiu uma reunião de emergência do Conselho de Segurança da ONU sobre o "massacre". "Peço ao Conselho de Segurança da ONU que realize uma reunião urgente para assumir suas responsabilidades ante esta matança", afirmou Ahmad Jarba ao canal Al-Arabiya.

Outro líder opositor, George Sabra, indicou à imprensa o número de 1.300 mortos em várias localidades nos arredores de Damasco, considerando que o massacre torna impossível qualquer solução política. "O que nos mata e mata nossas crianças não é apenas o regime. A indecisão americana nos mata. O silêncio de nossos amigos nos mata. O abandono da comunidade internacional nos mata, a indiferença dos árabes e muçulmanos, a hipocrisia do mundo que se acredita livre nos mata", declarou em uma coletiva de imprensa em Istambul.


"O regime tripudia da ONU e das grandes potências quando ataca perto de Damasco com armas químicas, no momento em que a comissão de investigação internacional se encontra a poucos passos de distância", acrescentou. "Onde está a comunidade internacional. Onde está a honra?", insistiu, falando dos 1.300 mortos no ataque desta quarta-feira.

"Todo discurso sobre a conferência de Genebra 2 e as propostas políticas são nulas com o prosseguimento desses massacres. O que tem acontecido destroi qualquer esforço político pacífico e torna absurdo todo discurso a este respeito", acrescentou. Sabra fez referência à conferência de paz internacional sobre a Síria - Genebra 2 - planejada por Moscou e Washington, mas cuja organização se arrasta há meses.

Representantes da Rússia e dos Estados Unidos devem se reunir novamente na próxima semana para prepará-la. A operação militar desta quarta-feira atingiu a localidade de Muadamiya al-Sham, no sudoeste da capital, que o exército tenta retomar, segundo o Observatório Sírio dos Direitos Humanos (OSDH), que se apoia em uma rede de militantes e fontes médicas.

Vários especialistas consultados pela AFP se mostraram prudentes. Paula Vanninen, diretora da Verifin, um instituto finlandês para a verificação da convenção de armas químicas, declarou que "não está totalmente convencida" de que se trata de um ataque com gases nervosos.

"As pessoas que ajudam as vítimas não usam roupas de proteção nem máscaras e, se fosse o caso, elas teriam sido contaminadas e teriam os mesmos sintomas", disse ela, a respeito do vídeo.

Para Gwyn Winfield, diretor da revista CBRNe Wold, especializada em armas químicas, "não existe informação alguma indicando que médicos ou enfermeiros morreram, o que leva a crer que não é o que se considera como gás sarin militar, mas pode ser um gás sarin diluído."