Jornal Correio Braziliense

Mundo

Islamitas convocam mais protestos após banho de sangue no Egito

No início das primeiras manifestações, partidários de Morsy atacaram duas delegacias em duas províncias do país e mataram dois policiais



[SAIBAMAIS]A convocação de protestos feita pela Irmandade Muçulmana, confraria da qual Mohamed Morsy procede, levanta os temores de uma nova onda de violência. As autoridades interinas, instaladas pelo exército após a destituição do presidente islamita, no dia 3 de julho, advertiram que não tolerarão mais protestos. O governo afirma que controla as duas praças ocupadas no Cairo pelos pró-Morsy - Rabaa al-Adawiya e Nahda -, e que foram violentamente atacadas pela polícia desde a madrugada de quarta-feira, surpreendendo os milhares de manifestantes que acampavam no local com mulheres e crianças.

A mesquita Iman, localizada na praça Rabaa al-Adawiyaa, epicentro da manifestação e quartel-general dos dirigentes da Irmandade Muçulmana ainda não detidos pelas autoridades, foi incendiada, constatou nesta quinta-feira um fotógrafo da AFP. Desta mesquita deve sair na tarde desta quinta-feira a marcha convocada pela Irmandade Muçulmana. Uma coluna de fumaça ainda se elevava, um dia após os violentos confrontos, do grande acampamento reduzido agora a cinzas. Uma centena de cadáveres envolvidos em sudários brancos estavam alinhados no chão, enquanto os voluntários tentavam identificar as vítimas.

Dezenas de pessoas, com o rosto coberto para se proteger do cheiro, chegavam para identificar seus familiares. Entre ela uma mulher que soltou um grito de horror ao encarar um corpo carbonizado sob o sudário.

Indignação internacional

A intervenção das forças de segurança e do exército provocou a indignação internacional e uma condenação majoritária do massacre e do lamentável recurso à força. O último balanço oficial é de 525 mortos - 482 civis e 43 policiais - e mais de 3.500 feridos em todo o país, mas pode ser ainda maior. A Irmandade Muçulmana fala de 2.200 mortos e mais de 10.000 feridos. Segundo o chefe do serviço de urgência egípcio, 202 pessoas morreram na quarta-feira apenas na praça Rabaa al-Adawiyia, principal local ocupado pelos manifestantes.

Várias figuras emblemáticas egípcias se desvincularam da sangrenta operação das forças de segurança. O vice-presidente Mohamed ElBaradei, prêmio Nobel da Paz e que havia aprovado o golpe militar contra Morsy, renunciou afirmando que rejeita "assumir decisões com as quais não estava de acordo". O Imã de Al-Azhar, a maior autoridade do islã sunita, também condenou a violência e explicou que ignorava os métodos que as forças de segurança utilizavam.

A imprensa egípcia, em sua maioria próxima ao exército, saudava nesta quinta-feira "O fim do pesadelo da Irmandade Muçulmana", segundo o jornal pró-governamental Al-Akhbar, enquanto o jornal independente Al-Shuruq se referia à "última batalha da Irmandade", ao lado de fotos que mostravam manifestantes armados.