CAIRO - A comunidade internacional, os Estados Unidos e a União Europeia intensificaram nesta terça-feira (6/8) seus esforços no Egito a fim de evitar o confronto entre as forças de ordem e simpatizantes do presidente islamita, Mohamed Morsy, deposto pelo Exército egípcio há um mês.
Milhares de manifestantes pró-Morsy estão acampados há mais de um mês em duas praças do Cairo para denunciar o "golpe de Estado militar" e pedir a volta do primeiro presidente eleito democraticamente no Egito. Há uma semana, contudo, o governo interino ameaçou retirar os simpatizantes a força.
Mais de 250 pessoas morreram - manifestantes, em sua maioria - depois de um mês de confrontos entre manifestantes a favor e contra Mursi, e entre as forças de ordem e os pró-Morsy. A comunidade internacional teme que uma tentativa de dispersão dos manifestantes termine em banho de sangue, já vez que os simpatizantes do presidente deposto ergueram barricadas nas praças de Rabaa al-Adawiya e Nahda usando mulheres e crianças como escudo.
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Os senadores americanos John McCain e Lindsey Graham, em coletiva de imprensa no Cairo, pediram um "processo político aberto a todos", incluindo a Irmandade Muçulmana - partido de Morsy - a quem foi pedido distanciamento de atos de violência.
Após terem se reunido com o general Abdel Fattah al-Sissi, chefe do Exército e homem forte do atual governo, e representantes de diversas forças políticas, incluindo os islamitas, os dois membros do Congresso americano pediram a libertação de Morsy, mantido em um local secreto pelos militares.
Seis parlamentares britânicos encontraram-se com o ministro das Relações Exteriores, Nabil Fahmy, que garantiu que novas autoridades trabalham pela reconciliação nacional no país, que vive uma profunda divisão.
Ministros europeus, americanos, africanos e árabes estão há uma semana no Cairo para tentar evitar uma intervenção da polícia e convencer a Irmandade Muçulmana, influente movimento islamita, a se dispersar e participar das eleições prometidas pelo governo interino para o início de 2014.
Até o momento, contudo, os esforços dos ministros foram em vão. Eles apenas conseguiram atrasar a intervenção da polícia, fato que, segundo analistas, é praticamente consumado. Os observadores não acreditam, entretanto, que ela deva ocorrer antes do término da festa que marca o fim do Ramadã, no próximo domingo.
O subsecretário de Estado dos Estados Unidos, William Burns, o comissário da União Europeia Bernardino Leon e os chefes da diplomacia do Catar e dos Emirados Árabes Unidos, encontraram-se na segunda-feira com Jairat al-Shater, número 2 da Irmandade Muçulmana, preso desde o início de julho.
Al-Shater e outros cinco membros do partido islamita deverão ser julgados a partir do dia 25 de agosto por "incitação ao assassinato".
Nesta terça-feira o assessor de Morsy, Ahmed Abdel-Aati, e seu conselheiro de segurança, Ayman Hodhod, também foram presos.
O impasse parece ser total e a crise paralisa qualquer iniciativa política. "Estamos focados na Praça Rabaa e não podemos nem nos concentrar na preparação do processo eleitoral", queixou-se nesta segunda-feira à AFP uma autoridade do governo.
"Não contem com uma dispersão das manifestações à força para que se passem por vítimas. Isso só vai aumentar a ira do povo em relação a vocês", declarou nesta terça-feira o vice-presidente interino e Prêmio Nobel da Paz, Mohamed ElBaradei, referindo-se à Irmandade.
No entanto, ele pediu que a imprensa egípcia "pare de diabolizar" os pró-Morsy.