Cairo - Os apelos à reconciliação nacional procedentes de todo o mundo chegavam nesta quarta-feira (31/7) ao Egito, onde o governo ameaça dispersar pela força os acampamentos islamitas, um dia após o fracasso da manifestação de "um milhão" convocada pela Irmandade Muçulmana. Apenas algumas dezenas de milhares de manifestantes responderam à convocação para pedir o retorno do presidente deposto, Mohamed Morsy.
[SAIBAMAIS]Ashton, a única pessoa que teve até o momento acesso a Morsy, detido em segredo pelo exército desde o golpe de 3 de julho, defendeu na terça-feira uma transição que "inclua todas as forças políticas", incluindo a Irmandade Muçulmana, que até o momento rejeita qualquer diálogo com um poder que considera ilegítimo.
Ao lado de Ashton, o vice-presidente nomeado pelos militares, Mohamed ElBaradei, afirmou que o ex-presidente havia fracassado e por esta razão estava excluído da transição, mas que a "Irmandade Muçulmana segue formando parte do processo político". "Os islamitas devem participar do futuro do Egito", disse o ministro das Relações Exteriores, Nabil Fahmy.
O ministro também indicou que a Irmandade Muçulmana pode participar "da redação da Constituição e das leis eleitorais", condicionando sua participação ao fim da violência. Desde o fim de junho, a violência deixou mais de 300 mortos, em sua grande maioria vítimas da repressão policial. O governo voltou a advertir que está disposto a dispersar os acampamentos dos partidários de Morsy no Cairo.
As tensões entre as Forças Armadas e o movimento pró-Morsy aumentam os temores de novos banhos de sangue, como o ocorrido no sábado, quando a repressão policial provocou a morte de 81 civis. O secretário americano de Defesa, Chuck Hagel, convocou na terça-feira o general Abdel Fatah al-Sissi, chefe das Forças Armadas e ministro da Defesa, para pedir a ele que os militares ajam com precaução. No entanto, a mobilização dos partidários de Morsy pareceu se enfraquecer na terça-feira, com o fracasso de sua tentativa de reunir no Cairo um milhão de manifestantes.