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Israelenses e palestinos retomam negociações de paz 3 anos depois

O secretário de Estado reconheceu que o processo será "difícil" e pediu às partes que cheguem a um "compromisso razoável"

Washington - Negociadores israelenses e palestinos iniciaram na noite desta segunda-feira, em Washington, as primeiras conversações de paz diretas em três anos, horas após o apelo dos Estados Unidos para que as duas partes negociem de "boa fé" visando um "compromisso razoável".

A chefe da delegação israelense, Tzipi Livni, e seu homólogo palestino, Saeb Erakat, foram vistos chegando ao departamento de Estado para se encontrar com o líder da diplomacia americana, John Kerry.

Kerry - que mais cedo nomeou o ex-embaixador em Israel Martin Indyk como enviado especial para as negociações - deve ser o anfitrião do Iftar, a refeição que marca o fim do jejum diário do Ramadã, o mês sagrado dos muçulmanos.

O secretário de Estado reconheceu que o processo será "difícil" e pediu às partes que cheguem a um "compromisso razoável" para acabar com o conflito.

A primeira decisão tomada pelas duas partes é que o calendário de discussões deverá durar ao menos nove meses, de acordo com o departamento de Estado americano.

"Trata-se do início de negociações diretas com base em um calendário de pelo menos nove meses", declarou Jennifer Psaki, porta-voz do Departamento de Estado.

"Vamos fazer todos os esforços para obtermos um acordo durante este período, mas (...) não se trata de uma data limite", insistiu Psaki.

Antes o presidente Barack Obama elogiou a retomada das negociações de paz e pediu honestidade e boa fé a israelenses e palestinos.

"O mais difícil ainda está por vir nestas negociações, e espero que tanto israelenses quanto palestinos tratem estas negociações com boa fé, com determinação e interesse", declarou Obama em um comunicado.

O governo israelense também saudou a retomada do processo de paz.

"É um dia muito especial", declarou o presidente de Israel, Shimon Peres. "O Oriente Médio encontra-se em uma situação tempestuosa. Esperamos que o Oriente Médio supere a tempestade e possa alcançar a paz".

Os Estados Unidos anunciaram no domingo que as primeiras reuniões entre israelenses e palestinos serão realizadas "no dia 29 de julho à tarde e terça-feira, 30 de julho" para "retomar formalmente as negociações diretas".

"Estas negociações serão uma oportunidade para desenvolver um plano de trabalho que determinará como as partes procederão nas negociações no decorrer dos próximos meses", disse o departamento de Estado.

Com sua aposta por uma diplomacia discreta, Kerry alcançou na semana passada, durante sua sexta viagem à região, um acordo para a retomada das negociações, congeladas desde setembro de 2010.

Com isso, convidou pessoalmente o presidente da Autoridade Palestina, Mahmud Abbas, e o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, a enviar seus representantes a Washington.

As últimas negociações de paz foram curtas devido à decisão de Israel de manter a colonização da Cisjordânia e de Jerusalém Oriental.

"Vão ser muito difíceis e problemáticas", afirmou Tzipi Livni depois de um encontro com o secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, e antes de viajar a Washington para o início das negociações.

Como prova da fragilidade deste início de negociações está a decisão do governo israelense, anunciada no domingo, de aprovar a libertação de 104 prisioneiros palestinos detidos antes dos acordos de Oslo de 1993, que foi bem recebida pela Autoridade Palestina, mas que provocou fortes reações em Israel.

"Trata-se de uma etapa importante e (nós) esperamos poder ter a oportunidade facilitada pelos esforços do governo americano por um acordo de paz durável e justo", declarou à AFP o palestino Saeb Erakat.

O jornal israelense Yediot Aharonot, por sua vez, rejeitou esta medida e escreveu em sua primeira página: "Os assassinos serão libertados".

Os nomes dos prisioneiros não foram divulgados, mas a lista incluirá assassinos de mulheres e crianças israelenses, afirmam os meios de comunicação. "Aqui estamos de novo", afirmava o Jerusalem Post. "Os assassinos serão recebidos como heróis em Hebron, Ramallah e Yenin", criticou.

Apenas o jornal de esquerda Haaretz recebeu com otimismo a decisão de libertar os prisioneiros: "O governo israelense decidiu no domingo encarar a realidade de frente", afirmou.

"Existem momentos nos quais é preciso tomar decisões difíceis para o bem do país, e este é um destes momentos", afirmou Netanyahu diante de seus ministros no início da reunião.

Qadura Fares, chefe do Clube de Prisioneiros Palestinos, havia afirmado no domingo, antes do anúncio de Israel, que não haveria negociação com o Estado hebreu sem a libertação dos 104 detidos. "Se não libertarem todos, não haverá negociações", afirmou.

Antes de aprovar a libertação dos prisioneiros palestinos, o Conselho de Ministros de Israel adotou um projeto de lei que prevê um referendo em caso de acordo de paz com os palestinos. Esta seria a última etapa necessária para ratificar um eventual acordo, após as aprovações do governo do país e do Parlamento.

Do lado palestino, uma importante facção da Organização pela Libertação da Palestina (OLP) rejeitou as negociações de paz.

A Frente Popular pela Libertação da Palestina (FPLP), partido de esquerda, afirmou que a decisão não tinha recebido o apoio de toda a OLP e que o esse consentimento havia sido um "gesto individual" de Abbas.