MONFORTE DE LEMOS - A imprensa espanhola descreve José Garzón, o maquinista do trem que descarrilou em Santiago de Compostela, como uma pessoa de comportamento temerário, mas amigos e vizinhos de sua pequena cidade natal de Monforte de Lemos garantem que ele é um "excelente profissional".
O motorista ainda não apareceu em público desde a noite do acidente, quando saiu cambaleando do trem, com o rosto ensanguentado.
Desde sua detenção, primeiro no hospital e depois na delegacia - para onde foi levado neste sábado por "homicídio por imprudência" -, o maquinista é foco da atenção de um país em luto e que tenta compreender as causas do mais grave acidente ferroviário espanhol desde 1944.
[SAIBAMAIS]"Foi o único acidente que ele teve, é um excelente profissional", afirmou Antonio Rodríguez, que entrou junto com Garzón na Renfe, a companhia ferroviária espanhola, em 1982.
Os dois começaram como trabalhadores não especializados, enchendo os depósitos de gasolina dos trens dessa pequena cidade galega, em um vale tranquilo a uma hora e meia de Santiago.
Agora, Rodríguez é o responsável pelos transportes na Galícia do sindicato UGT, o mais importante da Espanha, e um dos poucos a defender o condutor publicamente.
"Ele não tem nenhuma sanção desde 1982", quando começou a trabalhar para a Renfe, disse Rodríguez por telefone à AFP.
A imprensa espanhola descobriu comentários feitos por Garzón em uma rede social, no qual ele se gabava de estar a 200 quilômetros com uma foto do velocímetro do trem. "Estou no limite, não posso correr mais, ou me multam", dizia ele.
José Garzón ainda não quis prestar depoimento à polícia e poderá ficar à disposição da Justiça neste domingo para responder às perguntas do juiz.
Nas últimas horas, tanto o governo quanto as autoridades da rede ferroviária espanhola apontaram o condutor como principal responsável pelo acidente, embora a investigação ainda esteja em andamento.
O presidente da Adif, entidade que administra as vias, Gonzalo Ferre, foi o mais direto e lembrou, em uma entrevista à imprensa, que a missão de um condutor é "controlar a velocidade, porque, caso contrário, seria um passageiro".
Seus amigos e vizinhos se negam, contudo, a acreditar na versão que vem sendo amplamento divulgada.
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Na sala de espera da estação de Monforte, Jesús Asper, de 54, comenta com seu amigo Luis, de 80, algumas teorias sobre as causas do acidente.
"Não sei se foi uma falha mecânica, ou uma falha humana, mas aqui as pessoas se calam, porque é um assunto muito delicado. Mas vão lhe dizer que (ele) é muito responsável, muito competente", afirma Asper, reproduzindo a opinião de outros conterrâneos.
"A grande maioria das pessoas quer espetáculo. Quando uma coisa dessas acontece, tentam desgraçar uma pessoa", lamenta.