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Chefe do exército egípcio convoca protesto 'contra o terrorismo'

Em uma primeira decisão concreta diante da instabilidade no Egito, os Estados Unidos anunciaram nesta quarta-feira a suspensão do fornecimento de quatro caças F-16 a este país, que recebe uma importante ajuda militar americana

CAIRO - O chefe do Exército do Egito, o general Abdel Fatah al-Sissi, convocou nesta quarta-feira (24/7) os egípcios a protestarem para apoiar uma intervenção "contra a violência e o terrorismo", num momento em que partidários de Mohamed Mursi protestam contra a deposição do presidente islamita.

Em uma primeira decisão concreta diante da instabilidade no Egito, os Estados Unidos anunciaram nesta quarta-feira a suspensão do fornecimento de quatro caças F-16 a este país, que recebe uma importante ajuda militar americana. "Convoco todos os egípcios honrados a saírem às ruas na sexta-feira para me conceder um mandato para acabar com a violência e o terrorismo", declarou o general Sissi durante uma cerimônia militar transmitida pela televisão.

Sissi, que liderou um golpe militar contra Mursi no dia 3 de julho, após uma série de protestos contra o então presidente, afirmou que havia advertido o ex-governante de que deveria renunciar ao seu cargo ou realizar um referendo.

A Irmandade Muçulmana egípcia condenou nesta quarta a "convocação explícita para uma guerra civil", após o discurso do chefe do Exército.



"A declaração de Sissi é uma convocação à guerra civil", denunciou em comunicado a Irmandade Muçulmana, que defende o retorno do presidente Mohamed Mursi. "As ameaças de Sissi, líder do golpe militar, são uma declaração de guerra civil", insistiu o movimento, acrescentando que o general "tem total responsabilidade pelo derramamento de sangue dos egípcios".

Essam el-Erian, dirigente da Irmandade Muçulmana, reagiu em um primeiro momento rejeitando as ameaças do chefe do Exército, e assegurando que "suas ameaças não impedirão que milhares de pessoas continuem protestando" pela volta de Mursi.

O movimento Tamarrod ("rebelião"), que deu início à mobilização contra o presidente islamita, manifestou apoio incondicional ao general Sissi, fazendo um apelo para que o povo "ocupe as praças na sexta-feora para exigir oficialmente o julgamento de Mohamed Mursi e apoiar as Forças Armadas egípcias em sua guerra contra o terrorismo".

Essas novas declarações aumentam os riscos de uma escalada da violência, em um contexto de tensões políticas exacerbadas marcadas por episódios de violência.

O general, que também é vice-primeiro-ministro e ministro da Defesa, reafirmou que atendeu à vontade do povo ao destituir Mursi, cujo nome ele não pronunciou. "Nós apresentamos três vezes ao ex-presidente três analises estratégicas sobre a situação", indicou, assegurando que Mursi rejeitou todas as propostas de compromisso com os opositores exigindo a sua renúncia.

Sissi declarou ainda que pessoas próximas ao presidente tentaram dissuadi-lo do golpe, afirmando "que haveria muita violência por causa dos grupos armados".

Na terça-feira, o novo governo já havia afirmado que não deixaria o país cair em uma guerra civil. "O Egito não será uma segunda Síria, e quem tentar conduzi-lo por este caminho é um traidor", afirmou um porta-voz do presidente interino Adly Mansour.

Enquanto isso, dois soldados egípcios foram mortos nesta madrugada por homens armados no Sinai. Três outras pessoas morreram nesta região na explosão de um carro-bomba.

Um policial morreu nesta madrugada e 28 pessoas ficaram feridas na explosão de uma bomba colocada em frente à delegacia de Mansoura, no Delta do Nilo (norte), segundo os serviços médicos. O ataque não foi reivindicado.

Os partidários do presidente deposto "condenaram o atentado criminoso" de Mansoura, reafirmando seu compromisso "com manifestações pacíficas" e "denunciando os atos de violência".

Quase 170 pessoas morreram em atos de violência desde o final de junho, e outras quarenta - membros das força de ordem, civis, jihadistas - foram mortos em atentados ou operações militares na região instável do Sinai durante este período.

Além disso, a rede de televisão catariana Al-Jazeera, acusada de realizar uma cobertura favorável ao presidente destituído, denunciou uma "campanha de difamação" e "de pressões", e "de ameaças contínuas contra suas equipes de trabalho", denunciando a detenção prolongada de um de seus cinegrafistas e "uma agressão por parte de desconhecidos" contra um membro da equipe de produção.