JERUSALÉM - Israel anunciou neste sábado que irá libertar alguns prisioneiros palestinos como um "gesto" de boa vontade, depois de ambas as partes concordarem em se reunir para preparar as primeiras negociações de paz diretas em três anos.
O anúncio foi feito poucas horas depois de o secretário de Estado americano, John Kerry, anunciar na sexta-feira em Amã que israelenses e palestinos chegaram a um acordo de princípio para retomar as negociações de paz "dentro de uma semana mais ou menos" em Washington.
O chefe da diplomacia americana indicou que, como primeira etapa, o negociador palestino, Saeb Erakat, e sua homóloga israelense, Tzipi Livni, se reunirão em Washington "para iniciar as primeiras reuniões dentro de uma semana, mais ou menos".
A última rodada de negociações foi interrompida totalmente em setembro de 2010, quando Israel se negou a manter o congelamento da construção de novos assentamentos nos territórios palestinos.
A expansão dos assentamentos continua a ser um dos maiores obstáculos para as duas partes em conflito.
Neste sábado, o ministro de Relações Internacionais e de Inteligência, Yuval Steinitz, disse à rádio pública que "haverá um número limitado de prisioneiros palestinos libertados", sem especificar quantos, mas ressaltando que alguns deles passaram até 30 anos em prisões israelenses.
Steinitz não informou quando esta libertação ocorrerá, mas disse que se fará "por etapas".
"Será, sem dúvida, um gesto forte", afirmou.
Segundo o grupo de defesa dos Direitos Humanos B;Tselem, 4.713 palestinos estão detidos em Israel, 169 deles em detenção administrativa, um procedimento para manter os presos, sem acusação, por períodos renováveis de seis meses por tempo indeterminado.
O anúncio de Kerry foi feito após quatro dias de intensos esforços diplomáticos por parte do secretário de Estado americano, que manteve contatos com líderes israelenses e palestinos a partir da capital jordaniana. Como parte de seus esforços, ele chegou a fazer uma viagem de última hora a Ramallah, na Cisjordânia.
"Tenho o prazer de anunciar que chegamos a um acordo que estabelece uma base para a retomada das negociações de paz entre palestinos e israelenses", declarou Kerry aos jornalistas em Amã.
"Este é um passo adiante importante e bem-vindo. O acordo ainda está em processo de finalização. Com isso, não falaremos sobre nenhum dos elementos por enquanto", acrescentou.
Desde que se tornou secretário de Estado, em fevereiro, Kerry viajou seis vezes para a região.
Mas ele alertou que os problemas que separam os dois lados são "difíceis" e "complexos".
Um representante do Departamento de Estado disse que "chegaram a um acordo sobre os elementos de base que permitirão o início de negociações diretas".
Israelenses e palestinos têm posições muito diferentes no que diz respeito às questões do status final dos territórios, incluindo as fronteiras de um futuro Estado palestino, o direito de retorno dos refugiados palestinos e o destino de Jerusalém, que ambos desejam como capital.
O presidente palestino, Mahmoud Abbas, também exige o congelamento imediado da construção de assentamentos judaicos e a libertação de prisioneiros. Analistas advertem que não se pode tirar muitas conclusões a partir dos últimos acontecimentos.
Chico Menashe, comentarista da rádio pública israelense, comparou a situação a um "bolo mal cozido que Kerry tirou do forno. Kerry convenceu israelenses e palestinos de que era comestível, e os dois lados concordaram em comer".
Gal Berger, correspondente de assuntos palestinos para a rádio Israel, disse que Yitzhak Molcho, o enviado especial do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu, já havia começado negociações com Erekat, que continuam.
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"Agora Livni se juntará, mas ainda não é uma reunião ao nível de dois líderes (Netanyahu e Abbas)", ressaltou. Como esperado, o movimento radical islamita Hamas, que governa a Faixa de Gaza, rejeitou o anúncio.
"O Hamas rejeita o anúncio de Kerry sobre a retomada das negociações", declarou à AFP o porta-voz do movimento, Sami Abu Zuhri, reafirmando que "Abbas não tem legitimidade alguma para negociar em nome do povo palestino sobre questões fundamentais".