Os principais partidos políticos de Portugal continuavam nesta sexta-feira (19/7) suas negociações cujo resultado continua sendo incerto a dois dias da data limite para solucionar a crise política que atinge, há três semanas, este país sob assistência financeira.
O Partido Social Democrata (PSD, centro direita) do primeiro-ministro Pedro Passos Coelho, seu aliado o partido conservador CDS-PP e o Partido Socialista terminaram no começo da tarde uma nova rodada de negociações para selar, a pedido do presidente Aníbal Cavaco Silva, um "pacto de salvação nacional" que permita sair da crise provocada no começo de mês após a renúncia de dois ministros chave.
Em um comunicado conjunto breve, os três partidos, que assinaram o plano de resgate de 78 bilhões de euros acordado a Portugal em maio de 2011, não informaram se suas negociações continuariam.
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Vários meios locais afirmavam que não foi alcançado nenhum acordo até o momento. O presidente devia receber pela tarde Passos Coelho e ao secretário geral do PS, Antonio José Seguro.
As duas formações da coalizão de direita no poder e a oposição socialista começaram domingo as negociações e fixaram em uma semana para encontrar uma solução que, segundo o presidente, deve permitir ao país concluir com êxito seu programa de saneamento financeiro.
Contudo, a rejeição na véspera no Parlamento de uma moção de censura contra o governo respaldado pelos socialistas parece ter mudado o equilíbrio de forças. Passos Coelho, que a interpretou como um voto de confiança, parecia nesta sexta-feira muito menos disposto a fazer concessões.
O primeiro-ministro aproveitou o debate no Parlamento para reafirmar a solidez da coalizão no poder e indicar que tinha a intenção de ficar no cargo até o final de seu mandato em junho de 2015.
Passos Coelho também rejeitou a proposta do presidente - destinada a contentar o PS - de realizar eleições legislativas antecipadas em junho de 2014, quando terminar o plano de resgate. Esta eventualidade só faria "antecipar a incerteza", disse.
O primeiro ministro afirmou também que desejava que o presidente levasse adiante sua proposta de remodelação do gabinete através da qual propunha promover Paulo Portas a vice-primeiro-ministro, cuja renúncia como ministro das Relações Exteriores precipitou a crise.
Ao propor, na semana, passada aos três principais partidos portugueses firmar um "pacto de salvação nacional", o presidente omitiu esta renovação. "Levarei adiante", afirmou, contudo, Passos Coelho.
Parece muito difícil que seja alcançado um acordo entre a direita e a esquerda. Mais ainda quando o chefe do PS, Antonio José Seguro, se encontra sob uma forte pressão em seu partido para que rejeite um pacto que implicaria endossar a política de austeridade, exigida pelos credores de Portugal.
Os socialistas pedem para que seja flexibilizado o plano de austeridade para favorecer o crescimento e o emprego.
Seguro não quis comentar as declarações de Passos Coelho. "Não direi nada até que terminem" as negociações, declarou reprovando o chefe de governo de ter falado demais. "Os chefes dos partidos devem dar exemplo (...) para que nenhuma de suas palavras possam perturbar" as negociações, acrescentou.
O jornal econômico Diário Econômico trouxe a manchete "Desacordo" e acrescentou que "o acordo de salvação nacional está por um fio".
O presidente Cavaco Silva também parecia menos confiante que no passado. "Quero que haja um acordo, mas ele deve respeitar a decisão dos partidos seja qual for", declarou.
O presidente, que tinha pedido negociações o mais breve possível, pareceu disposto até a dar mais tempo. "A precipitação pode ser a inimiga do bem", disse.