"Não quero viver no palácio apostólico, só vou ali para trabalhar e para as audiências. A casa de Santa Marta é uma casa para bispos, padres e laicos. Ali vivo diante dos olhos de todos e levo uma vida normal, missa pública pela manhã, café do manhã com os demais no refeitório. Isso me faz bem e faz com que não me sinta isolado", escreveu Francisco. Cerca de 60 pessoas vivem permanentemente em Santa Marta (cardeais, bispos e funcionários de alto escalão do Vaticano) e outras 60 pessoas costumam estar de passagem.
Apesar da presença do papa, a residência não está fechada aos hóspedes, mas a vida diária se complicou desde a chegada de Francisco. A gendarmaria e a Guarda Suíça precisaram se adaptar, com a supressão de um estacionamento próximo e a instalação de barreiras de segurança nos arredores.
Formado nos jesuítas, Francisco é um papa austero e enérgico, que começa o dia às 5h, com duas horas de orações e meditação, até ir às 7h a sua missa diária, onde cumprimenta os convidados e os sacerdotes. Após o café da manhã, no salão geral, com os demais moradores da residência, o papa dedica duas horas a trabalhar em um discreto escritório e lê os jornais. Depois vai de carro ao palácio apostólico para as audiências oficiais no luxuoso segundo andar. Ali recebe bispos, delegações, congregações, chefes de Estado e de governo até as 13h.
Quase nunca visita o terceiro andar do palácio, onde se localiza o apartamento papal, exceto aos domingos para o Ângelus, quando dá uma bênção à multidão do mesmo balcão utilizado por Bento XVI ou João Paulo II. Entre as 13h e as 14h, o papa volta a Santa Marta para almoçar no salão geral, onde tem uma mesa reservada. Às vezes convida outras pessoas para acompanhá-lo e com alguns de seus convidados prefere se instalar em uma pequena sala próxima.
Depois, o papa de 76 anos faz uma pequena sesta e dedica a tarde ao trabalho: realiza reuniões, lê documentos, fala pelo telefone (sempre com a saudação "Oi, é Bergoglio falando") e pede notícias sobre o estado de saúde de sua mãe. O papa volta a dedicar, entre as 19h00 e as 20h00, uma hora a rezar, e depois janta na companhia de outros sacerdotes no mesmo refeitório. Finalmente se retira ao seu quarto por volta das 21h00 e dorme finalmente às 22h30. Em sua carta ao sacerdote Rodríguez, Bergoglio escreveu: "Tento viver e agir como fazia quando estava em Buenos Aires. Se tentasse mudar, na minha idade, correria o risco de parecer ridículo".