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ONU calcula que conflito sírio deixa 5 mil mortos por mês desde 2011

Autoridades fizeram um apelo ao Conselho de Segurança das Nações Unidas para que adote medidas mais fortes em relação à guerra

Uma média de 5 mil pessoas morrem a cada mês na guerra que atinge a Síria desde março de 2011 e que provocou a pior crise de refugiados desde o genocídio em Ruanda (1994), afirmaram nesta terça-feira (16/7) altos funcionários de alto escalão da ONU.

Essas autoridades fizeram um apelo ao Conselho de Segurança das Nações Unidas, dividido em torno do conflito, para que adote medidas mais fortes em relação à guerra, que causou quase 100 mil mortes em 26 meses.

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"O número extremamente elevado de mortes, de por volta de 5 mil por mês, demonstra a drástica deterioração do conflito", afirmou o subsecretário geral da ONU para os Direitos Humanos, Ivan Simanovic, durante uma reunião sobre a guerra síria no Conselho de Segurança.

"Hoje na Síria, sérias violações dos direitos humanos, crimes de guerra e crimes contra a Humanidade, são a norma", declarou Simonovic.

O alto comissário da ONU para os Refugiados, Antonio Guterres, e a chefe de Operações Humanitárias da ONU, Valerie Amos, fizeram um apelo para que o Conselho de Segurança estimule uma ampla colaboração da comunidade internacional para aliviar a situação dos refugiados e dos sírios que permanecem no país.

Cerca de 1,8 milhão de pessoas se refugiaram nos países vizinhos da Síria, enquanto uma média de 6 mil cidadãos fogem do país todos os dias, afirmou Guterres.

"Não vimos um fluxo de refugiados que se acelerasse em um ritmo tão chocante desde o genocídio em Ruanda, há quase 20 anos", sustentou Guterres.

"Esta crise se prolongou muito mais do que se podia temer, com insuportáveis consequências humanitárias", explicou o chefe da Acnur.

Ele ressaltou que o gesto de Líbano, Iraque, Jordânia e de outros países de aceitar em seus territórios os refugiados sírios tem "salvado centenas de milhares de vidas".

Já Amos disse que a comunidade internacional deve considerar a possibilidade de realizar operações fronteiriças a fim de fazer chegar ajuda à Síria.

Amos estimou que ainda são necessários 3,1 bilhões de dólares para garantir as operações de ajuda humanitária até o final do ano.

Segundo ela, quatro milhões de pessoas no interior da Síria precisam de assistência e "restrições consideráveis " foram impostas sobre as agências de ajuda por parte do governo e grupos de oposição.

Amos apelou para a retirada dos obstáculos burocráticos, mas também para a designação de "rotas humanitárias prioritárias" e a notificação prévia de ofensivas militares.

Ela destacou a situação da Cidade Velha em Homs, onde o governo tem intensificado o cerco no mês passado. A ONU estima que 2,5 mil civis estejam bloqueados em meio ao fogo cruzado.

"Grupos de oposição não têm garantido a passagem segura da ajuda e o governo da Síria tem impedido que as agências prestem assistência dentro da Cidade Velha", explicou.

Amos disse que deveria haver "uma pausa humanitária" no conflito para permitir o acesso de ajuda e "operações fronteiriças, conforme o caso".

A ajuda fronteiriça é polêmica. A Rússia, um dos principais aliados do presidente Bashar al-Assad, têm resistido a discutir tais operações no âmbito das Nações Unidas.

A Turquia, no entanto, apoia esta ideia. "O Conselho precisa considerar formas alternativas de prestação de ajuda, incluindo as operações fronteiriças", declarou o embaixador adjunto turco na ONU, Levent Eler.

Ele declarou que a crise na Síria está se tornando "a maior tragédia humanitária do século 21".

O embaixador do Líbano na ONU, Nawaf Salam, insistiu por sua vez que é "urgente" que o Conselho de Segurança adote novas medidas sobre a crise de refugiados.

Salam lembrou que a ONU registrou 607.908 refugiados no Líbano, mas o governo estima que o número real seja de 1,2 milhão. Ele estima que o número pode aumentar até 20 vezes durante 2013.

O embaixador Sírio na ONU, Bashar Jaafari, colocou em xeque os números divulgados pelos funcionários da Nações Unidas, ao alegar que procedem de "fontes não profissionais".

Mas Simonovic disse que foram comprovadas, por métodos "rigorosos", mais de 92.900 mortes há um mês.

Ele disse que cada morte foi verificada por nome e data e checada com pelo menos três fontes.