Cairo - A justiça egípcia começou a interrogar neste domingo (14/7) o presidente deposto Mohamed Morsy e outros membros da Irmandade Muçulmana sobre as circunstâncias da sua fuga da prisão durante a revolta de 2011, informaram fontes judiciais.
A investigação é uma resposta às acusações de que Morsy e outros altos funcionários escaparam da prisão de Wadi Natrun (noroeste do Cairo), durante a insurreição de janeiro de 2011, e pretende apurar se a Irmandade teve a ajuda de grupos estrangeiros, como o Hezbollah libanês ou Hamas palestino, segundo as mesmas fontes.
O interrogatório do presidente islamita deposto por um golpe de Estado em 3 de julho acontece em um local secreto, indicaram.
No sábado, fontes judiciais informaram que o novo procurador-geral analisava queixas contra Mohamed Morsy e a Irmandade Muçulmana por "espionagem", "incitação ao assassinato de manifestantes" e "má gestão econômica".
Esta análise poderia levar à abertura oficial de uma investigação.
O Exército egípcio depôs Morsy após manifestações em massa exigindo a sua saída. Seus partidários continuam a protestar contra o golpe militar e a tensão prossegue em todo o país.
Segundo as autoridades, Morsy está "seguro" e é tratado "com dignidade".
As negociações para a formação do governo interino egípcio se intensificaram no sábado e o governo pode ser anunciado na terça ou quarta-feira.
O primeiro-ministro Hazem Beblawi se reuniu e com alguns futuros ministros, e as consultas devem continuar neste domingo.
O novo poder Executivo terá 30 membros, segundo Bablawi, que indicou que suas prioridades serão: restaurar a segurança, garantir o fornecimento de bens e serviços e preparar eleições legislativas e presidenciais.
Segundo fontes oficiais citadas pela agência Mena, o ministro do Interior, Mohamed Ibrahim, e, especialmente, o da Defesa, o general Abdel Fatah al-Sissi, deve permancer em seus respectivos cargos.
O Prêmio Nobel da Paz Mohamed ElBaradei, um dos líderes da oposição ao presidente deposto Mohamed Morsy , foi empossado neste domingo como vice-presidente encarregado das relações internacionais do Egito, de acordo com o anúncio da presidência interina.
Os esforços para a formação do novo governo refletem o compromisso das autoridades de seguir em frente, apesar dos protestos em favor de Morsy .
"Haverá novas manifestações", declarou o porta-voz da Irmandade Muçulmana, Tareq al-Muri. "Serão eventos pacíficos", assegurou à AFP.
Sexta-feira, dezenas de milhares de manifestantes se reuniram para exigir o retorno do presidente islamita, mais de uma semana depois de sua destituição por parte do Exército e do anúncio de um processo de transição.
Os partidários de Morsy se reuniram para a primeira sexta-feira do Ramadã em frente a uma mesquita do Cairo, enquanto os opositores convocaram uma demonstração de força na Praça Tahrir, no final da noite, aproveitando a ruptura do jejum.
Durante todo o dia, uma grande multidão permaneceu reunida em frente à mesquita Rabaa al-Adawiya, no bairro de Nasr City, ocupado por partidários do presidente deposto.
"Estamos aqui para dizer aos militares que não renunciaremos à legitimidade" do primeiro presidente democraticamente eleito do país, declarou à AFP Ashraf Fangary. "Vamos defender Morsy com o nosso sangue", acrescentou Mohamed Yousry.
"Vamos permanecer nas ruas por um mês, dois meses ou até um ano ou dois, se necessário", disse à multidão o líder islamita Safwat Hegazi.
Ele reiterou as exigências da Irmandade Muçulmana: o imediato retorno de Morsy ; a realização de eleições legislativas; e a criação de uma comissão de reconciliação nacional.