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Milhares saem às ruas no Chile para exigir melhores condições de trabalho

Protesto começou durante a manhã com uma dezena de barricadas incendiárias em vários pontos de Santiago

SANTIAGO - Milhares de pessoas protestaram nesta quinta-feira nas ruas de Santiago para exigir melhorias trabalhistas a quatro meses das eleições presidenciais, no âmbito de uma greve nacional que começou com bloqueios a mineradoras e barricadas incendiárias, que deixaram mais de 20 detidos. O protesto, convocado pela Central Sindical Única de Trabalhadores (CUT), com apoio de funcionários públicos e estudantes, começou durante a manhã com uma dezena de barricadas incendiárias em vários pontos de Santiago, que causaram engarrafamentos e desvios do transporte público nas horas de maior movimento, segundo relatórios da polícia. Segundo a maior agremiação sindical do país, 150.000 pessoas participaram da passeata, enquanto a Polícia indicou 15.500 manifestantes. O protesto terminou com alguns incidentes isolados entre pessoas encapuzadas, que depredaram mobiliário público e jogaram pedras em policiais, que reprimiram os mais exaltados com jatos d'água e bombas de gás lacrimogêneo. No total, 37 pessoas foram detidas e seis membros das forças de ordem ficaram feridos. O principal sindicato do país exige um novo código trabalhista, uma reforma tributária que diminua a desigualdade social, salário mínimo de pelo menos 490 dólares - atualmente é de 380 dólares mensais - e um novo sistema de aposentadorias que passe do modelo privado para o estatal, sem lucro e de contribuição compartilhada entre trabalhador e empregador. O presidente da Associação Nacional de Empregados Fiscais (Anef), Raúl de la Puente, disse que 90% dos 100.000 funcionários públicos inscritos no sindicato cruzaram os braços. O governo informou, por sua vez, que 6,4% dos trabalhadores aderiram à greve (10.200). "Não há objeção à CUT fazer uma mobilização. O governo não vê razões para uma greve hoje em dia", disse em uma coletiva de imprensa o ministro do Interior, Andrés Chadwick. A Prefeitura de Santiago e a CUT alcançaram na manhã desta quinta-feira, no último momento, um acordo sobre o percurso da manifestação pela capital, que se desenvolvia pacificamente. A polícia armou um forte esquema de segurança, com centenas de homens. Os acessos às principais jazidas mineradoras da estatal Codelco, a maior produtora mundial de cobre, também foram bloqueados com cortes de estradas, provocando atrasos no início dos turnos, mas sem afetar o funcionamento local da mina, informou a companhia. Na noite de quarta-feira, cerca de cem manifestantes participaram de um panelaço em frente ao palácio do Governo, e durante a madrugada, no bairro de Estación Central, um grupo atacou um ônibus do público, depois de ordenar a saída dos passageiros e do motorista do ônibus. A greve ocorre a quatro meses das eleições parlamentares e presidenciais de 17 de novembro, e é marcada por um clima de reiterados protestos protagonizados pelos estudantes, que conseguiram manter suas demandas por uma mudança no sistema educacional herdado da ditadura de Augusto Pinochet (1973-1990), exigindo educação pública gratuita e de qualidade. Os influentes grupos de estudantes se uniram à greve nacional, que também conta com a participação de trabalhadores do Registro Civil, professores de jardins de infância, serviços de alfândega e da Associação Nacional de Funcionários da Aviação Civil. Apesar dos protestos em alguns setores, o aeroporto de Santiago funcionava normalmente na manhã desta quinta-feira, assim como a maioria dos serviços e lojas da cidade.