SANTIAGO - Milhares de pessoas protestaram nesta quinta-feira (11/7) nas ruas de Santiago para exigir melhorias trabalhistas faltando quatro meses para as eleições presidenciais, no âmbito de uma greve nacional que começou com bloqueios a mineradoras e barricadas incendiárias, que deixaram mais de 20 detidos.
O protesto, convocado pela Central Sindical Única de Trabalhadores (CUT), com apoio de funcionários públicos e estudantes, começou durante a manhã com uma dezena de barricadas incendiárias em vários pontos de Santiago, que causaram engarrafamentos e desvios do transporte público nas horas de maior movimento, segundo relatórios da polícia.
O principal sindicato do país demanda um novo código trabalhista, uma reforma tributária que diminua a desigualdade social, salário mínimo de pelo menos 490 dólares - atualmente é de 380 dólares mensais - e um novo sistema de aposentadorias que passe do modelo privado para o estatal, sem lucro e de contribuição compartilhada entre trabalhador e empregador.
O presidente da Associação Nacional de Empregados Fiscais (Anef), Raúl de la Puente, disse que 90% dos 100.000 funcionários públicos inscritos no sindicato paralisaram suas funções. O governo informou, por sua vez, que 6,4% dos trabalhadores aderiram à greve (10.200).
"Não há objeção à CUT fazer uma mobilização. Razões para fazer uma greve hoje em dia no país, a julgamento do governo, vemos como inexistentes", disse em uma coletiva de imprensa o ministro do Interior, Andrés Chadwick.
Até o meio-dia, 24 pessoas haviam sido detidas por desordens relacionadas às barricadas e à greve nacional, segundo Chadwick.
A prefeitura de Santiago e a CUT alcançaram na manhã desta quinta-feira, no último momento, um acordo sobre o percurso da manifestação pela capital, que se desenvolvia pacificamente. A polícia mobilizou um forte dispositivo de segurança, com centenas de efetivos.
Os acessos às principais jazidas mineradoras da estatal Codelco, a maior produtora mundial de cobre, também foram bloqueados com cortes de estradas, provocando atrasos no início dos turnos, mas sem afetar o funcionamento local da mina, informou a companhia.
Na noite de quarta-feira, uma centena de manifestantes participaram de um panelaço em frente ao palácio do Governo, e durante a madrugada, no bairro de Estación Central, um grupo de desconhecidos atacou um ônibus do transporte público e o incendiou, depois de ordenar a saída dos passageiros e do motorista do ônibus.
A greve ocorre a quatro meses das eleições parlamentares e presidenciais de 17 de novembro, e é marcada por um clima de reiterados protestos protagonizados pelos estudantes, que conseguiram manter ao longo do tempo suas demandas por uma mudança no sistema educacional herdado da ditadura de Augusto Pinochet (1973-1990), exigindo educação pública gratuita e de qualidade.
Os influentes grupos de estudantes se uniram à greve nacional, que também conta com a participação de trabalhadores do Registro Civil, professores de jardins de infância, serviços de alfândega e da Associação Nacional de Funcionários da Aeronáutica Civil.
Apesar dos protestos em alguns setores, o aeroporto de Santiago funcionava normalmente na manhã desta quinta-feira, assim como a maioria dos serviços e lojas da cidade.