"Não havia falado com ele desde antes de deixar Hong Kong e falamos no sábado e ontem (terça-feira)", disse o jornalista, que se comunica com Snowden por chat ou e-mail.
O ex-consultor da Agência de Segurança Nacional (NSA, em inglês) americana, sem passaporte e bloqueado em Moscou, está foragido da justiça de seu país onde é acusado de espionagem, depois de ter vazado à imprensa informações sobre um programa americano secreto de vigilância das comunicações mundiais.
Greenwald disse desconhecer qual país concederá refúgio a Snowden. "Não falamos de planos de asilo, não sei quais são seus planos neste sentido".
Três países latino-americanos ofereceram asilo a ele: Venezuela, que para Greenwald seria a opção mais lógica, Nicarágua e Bolívia.
"Para mim é a escolha mais lógica porque é maior e mais forte que os outros dois países que ofereceram asilo a ele", considerou.
O Brasil indicou na terça-feira que não concederá asilo ao americano.
O WikiLeaks anunciou na terça através da rede social Twitter uma campanha para um "voo pela liberdade" para transferir Snowden, mas não forneceu detalhes.
As revelações de Snowden abriram um debate sobre as operações de espionagem em todo o mundo.
Segundo uma pesquisa da Universidade Quinnipiac, 55% dos eleitores americanos consideram que Snowden não é um traidor, mas um "delator" (whistleblower em inglês) e 45% acreditam que os esforços de combate ao terrorismo do governo "vão muito longe ao restringir as liberdades civis".
O jornal O Globo, que teve acesso a vários dos documentos divulgados por Snowden a Greenwald, informou que Brasília fez parte de uma rede de 16 bases de espionagem operadas pelos serviços de inteligência dos Estados Unidos, que espionaram milhares de chamadas telefônicas e e-mails.
O primeiro contato
O primeiro contato de Snowden com Greenwald foi em dezembro de 2012. O ex-consultor pediu ao colunista do jornal britânico The Guardian que instalasse um programa para "encriptar" e-mails a fim de compartilhar uma informação que seria de interesse.
O jornalista, autor de quatro livros sobre política americana e de um popular blog, não deu muita importância ao e-mail e apenas depois de muita insistência de Snowden o vínculo começou.
"Quando comecei a falar com ele, já estava em Hong Kong, e me pediu que viajasse e o encontrasse lá. Disse a ele que precisava ver alguns documentos para analisar se valia a pena ir até lá. Ele me mandou uns 20 documentos aproximadamente e eram a coisa mais impressionante que já vi na minha vida. No dia seguinte viajei a Nova York e, um dia depois, a Hong Kong", lembrou.
No encontro, Snowden deu a ele duas caixas com informações da inteligência e se identificou: "Deu a mim vários documentos que tinham seu nome, seu número de seguro social, sua identificação do governo. Naquele dia soube seu nome".
Muitos dos documentos da NSA são "muito complicados, técnicos, muito codificados, não em inglês regular, e dá muito trabalho decifrá-los", indicou Greenwald, para quem novas revelações "estão a caminho".
Greenwald, de 46 anos, que nasceu na Flórida mas vive há oito anos no Rio de Janeiro com o namorado, sustentou que embora nunca tenha sido ameaçado diretamente pelo governo americano, tem certeza de que é espionado no Brasil.
"Não tenho a menor dúvida de que o governo está seguindo minhas comunicações. Estaria impressionado se não o fizessem. Sempre assumo que estou sendo vigiado (...) Quando estava em Hong Kong falei com meu companheiro por Skype para dizer que enviaria a ele uns documentos protegidos. Alguns dias depois seu computador foi roubado, nada mais foi roubado, só isso", disse.
"Disseram-me que há uma forte presença da CIA (a Agência Central de Inteligência americana) no Rio de Janeiro e acredito que me seguem, mas isso não vai me deter", lançou.