Washington - O Conselho Permanente da Organização dos Estados Americanos (OEA) discutia nesta terça-feira um projeto de resolução apresentado pela Bolívia para condenar vários países europeus por bloquear o uso de seu espaço aéreo ao avião do presidente Evo Morales.
Apoiada por Venezuela, Equador e Nicarágua, a Bolívia introduziu um rascunho para "rejeitar e condenar" as atuações "claramente violatórias de normas e de princípios básicos do Direito Internacional, como a inviolabilidade dos chefes de Estado".
Os quatro países latino-americanos também "exigem" de França, Portugal, Itália e Espanha "as explicações e desculpas necessárias" sobre as causas que motivaram o cancelamento das autorizações de sobrevoo" da aeronave, na qual o presidente boliviano viajava.
O ministro de Governo da Bolívia, Carlos Romero, que representa seu país na reunião, considerou o incidente "de muita gravidade" e destacou que constitui um "atentado" e uma "agressão, da qual Morales foi vítima".
Venezuela, Nicarágua e Equador mostraram de imediato sua solidariedade com a Bolívia, com a qual integram a Aliança Bolivariana para os Povos da América (Alba), e apoiaram o projeto de resolução.
Os países europeus "atuaram de forma agressiva e não amistosa", criticou o embaixador nicaraguense, Denis Moncada, enquanto que o representante venezuelano, Roy Chaderton chamou-os de "súditos coloniais que obedecem dóceis à superpotência global", em clara referência aos Estados Unidos.
Os quatro países europeus - que são membros observadores da OEA, tendo voz, mas sem direito a voto no Conselho - se distanciaram das críticas. "A Itália não teve absolutamente nada a ver com os obstáculos ao voo" de Morales, disse o representante Sebastiano Fulci, que pediu que seu país fosse excluído da resolução.
"Não é a Itália que deve pedir desculpas à Bolívia, mas exatamente o contrário", frisou. Já o representante espanhol, Jorge Hevia, garantiu que seu país "não demorou, nem negou, nem cancelou qualquer permissão de sobrevoo à aeronave boliviana".
A resolução obteve apoio de quase todos os países membros, salvo Canadá, Panamá e EUA. O Canadá considerou "prematura" uma resolução sem esgotar as vias diplomáticas, e Washington classificou de "inapropriado" para a OEA se declarar sobre um "assunto bilateral" entre a Bolívia e os governos europeus.
A reunião foi suspensa até as 20h, enquanto as delegações negociavam a resolução final antes de sua votação. Já o secretário-geral da OEA, José Miguel Insulza, deu o documento por aprovado e pediu que se esclareça o incidente - caso contrário, ficará uma "ferida" entre os países envolvidos.
"A melhor forma de curar esta ferida é que se esclareça o que realmente aconteceu. De onde chegou a notícia de que o senhor Snowden estava no avião? Por que se acreditou nisso? O que levou esses países a cometerem semelhante ato?" - questionou Insulza. "Não acho que tenha sido um uso arbitrário, fizeram isso por algum motivo", acrescentou.