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Seguidores de Morsy saem às ruas e choques deixam ao menos 14 mortos

Enquanto isso, confrontos entre manifestantes favoráveis e contrários a Morsy, envolvendo soldados, deixaram oito mortos no país

CAIRO - Dezenas de milhares de partidários da Irmandade Muçulmana e opositores se mobilizaram nesta sexta-feira (5/6) no Egito após o golpe militar contra o presidente Mohamed Morsy, desencadeando atos de violência que deixaram 14 mortos no país, incluindo oito durante manifestações.

No momento em que a tensão é extrema entre pró e anti-Morsy, cinco policiais e um soldado morreram na península do Sinai (norte), em ataques de militantes islamitas que não foram reivindicados. À noite, islamitas atacaram o governo do Sinai do Norte e hastearam sua bandeira.

Enquanto isso, confrontos entre manifestantes favoráveis e contrários a Morsy, envolvendo soldados, deixaram oito mortos no país.

No Cairo, confrontos eclodiram nas imediações da Praça Tahrir entre manifestantes de ambos os campos, deixando dois mortos.

Tiros ainda podiam ser ouvidos e os dois campos se atacavam com pedras na ponte 6 de Outubro, perto da praça emblemática da capital egípcia, onde estavam reunidos milhares de opositores ao presidente islamita. O Exército anunciou que vai intervir para separar os manifestantes.

Mobilizados para uma "Sexta-feira de recusa" ao "golpe de Estado militar" e ao "Estado policial", o guia supremo da Irmandade Muçulmana - à qual pertence Morsy -, Mohamed Badie, se apresentou diante da multidão para estimular os partidários do movimento a permanecerem nas ruas "aos milhões" até que o presidente deposto seja restituído ao poder.

"Nós já vivemos sob um regime militar e não o aceitaremos novamente", alertou. Badie se referiu, com isso, aos 16 meses em que o Exército assumiu as rédeas do executivo entre a saída de Hosni Mubarak, derrubado por uma revolta popular em fevereiro de 2011, e a eleição de Morsy em junho de 2012. Durante seu discurso, helicópteros militares sobrevoavam a multidão a baixa altitude.



As novas autoridades estabelecidas pelo Exército, após a deposição de Morsy na quarta, pareciam determinadas a formular rapidamente um "mapa do caminho" que deve levar a eleições antecipadas.

O presidente interino, Adly Mansour, nomeado pela instituição militar, dissolveu a câmara alta, que era dominada pelos islamitas, em seu primeiro decreto. Ele também nomeou um novo chefe do serviço de inteligência.

Mas essas decisões podem aumentar ainda mais a tensão em um país profundamente dividido. Os confrontos registrados desde o dia 26 de junho já deixaram cerca de 60 pessoas mortas.

Após uma onda de detenções de lideranças da Irmandade Muçulmana, à qual pertence Morsy, o procurador-geral anunciou que operações de busca e apreensão serão realizadas contra nove delas -incluindo Badie- como parte de uma investigação por incitação ao assassinato" de manifestantes.

À tarde, milhares de partidários de Morsy deixaram uma mesquita de Nasr City, no subúrbio do Cairo, gritando "Mohamed Mursi é nosso presidente" e "Traidores", e chegaram à entrada da sede da Guarda Republicana, situada perto do palácio presidencial.

Depois, eles tentaram afixar nas barreiras de arame farpado que cercam o edifício uma imagem do ex-chefe de Estado, ainda detido pelo Exército, bradando em diversas oportunidades advertências aos soldados. Tiros foram disparados, matando quatro pessoas, segundo a agência oficial Mena. Eles anunciaram que realizarão um ;sit-in; (manifestação em que as pessoas se mantem sentadas) diante do prédio até o restabelecimento do presidente.

Enquanto isso, de acordo com a Mena, uma pessoa morreu e 120 ficaram feridas em confrontos em Alexandria entre manifestantes defensores de Morsy e contrários ao mandatário deposto, que tiveram a intervenção das forças de ordem, enquanto em Assiout (sul) uma pessoa morreu durante enfrentamentos entre partidários do ex-chefe de Estado e as forças de segurança.

Em resposta à "Sexta-feira de recusa", a oposição a Morsy convocou grandes manifestações, em particular para domingo, "em defesa da revolução de 30 de junho", em referência ao dia em que foram realizados gigantescos atos contra o presidente deposto.
== Apelos à unidade ==

Após a destituição de Morsy, o Exército pediu que os egípcios rejeitem a "vingança" e atuem em prol da "reconciliação nacional", enquanto Mansour pediu união em declarações à rede britânica Channel 4.

Embora Morsy fosse contestado pelo Ocidente, houve um grande mal-estar após a queda de um presidente eleito democraticamente.

Washington pediu na quinta que o poder não efetue "prisões arbitrárias".

A União Africana suspendeu o Egito, rejeitando "qualquer tomada ilegal do poder". O Ministério egípcio das Relações Exteriores lamentou profundamente a decisão.

Eleito em junho de 2012, Morsy era acusado por todos os males --administrações corruptas, problemas econômicos e tensões religiosas-- por seus adversários que viam nele um burocrata islamita inexperiente e ávido por poder. Ele foi derrubado pelo Exército após manifestações de magnitude inédita exigindo sua queda.

O golpe do Exército, apoiado por grande parte da população, pela oposição e por autoridades religiosas, abre caminho para um novo e delicado período de transição no país árabe mais populoso.

Para o representante da oposição, Mohamed ElBaradei, a intervenção do Exército para derrubar Morsy foi uma "medida dolorosa", mas necessária para "evitar uma guerra civil".