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Dia histórico no Vaticano: anúncio de canonização e publicação de encíclica

o papa Francisco autorizou nesta sexta-feira a canonização do beato João Paulo II e de João XXIII, além de publicar sua primeira encíclica





Mas o papa Francisco surpreendeu ao anunciar a canonização de João XXIII. O chamado "Papa bom", Angelo Giuseppe Roncalli, é considerado como pai da renovação da Igreja católica por ter lançado o Concílio Vaticano II, que traçou mudanças profundas como o abandono do latim e do uso obrigatório da batina, mas especialmente por imprimir a liberdade de consciência e a abertura a outras religiões e aos não crentes.

Jorge Bergoglio também tem, a seu modo, revolucionado a Igreja, empreendendo reformas na Cúria romana e nas finanças do Vaticano. Sinal da determinação do novo Papa em encaminhar as duas canonizações, o decreto assinado por ele nesta sexta-feira reconhece a atribuição de um milagre por intercessão de João Paulo II, enquanto no caso de João XXIII Francisco considera que não era necessário demonstrar que intercedeu em um milagre.

[SAIBAMAIS]A data da cerimônia de canonização não foi fixada, mas "poderá ocorrer no final de 2013", segundo o porta-voz do Vaticano, padre Federico Lombardi. De acordo com fontes citadas pela agência de informações sobre o Vaticano i.media, esta dupla canonização permitirá relativizar a promoção particularmente rápida do Papa polonês que, com certeza, marcou a história -principalmente pela queda do comunismo-, mas em torno do qual ainda permanecem áreas cinzentas, como a gestão da Cúria e os casos de pedofilia dento do clero.

Outra razão que explica a decisão de celebrar os dois papas ao mesmo tempo é a proximidade de Jorge Bergoglio do comportamento de João XXIII. Os abraços distribuídos entre a multidão durante os passeios em "papamóvel", seus improvisos, sua linguagem direta e simples, que contrasta com a personalidade austera e tímida de seu predecessor, o ex-teólogo Bento XVI.

Ainda assim, nenhuma divergência doutrinária separa os dois Papas que coabitam no menor Estado do mundo, após a renúncia histórica do Papa alemão, que surpreendeu o mundo inteiro em fevereiro. Como prova, a primeira encíclica da história escrita "a quatro mãos" por dois Papas, sob o título "Lumen fidei" ("A luz da fé"). Iniciada por Bento XVI, este texto de 85 páginas foi retomado, completado e assinado por Francisco.



Na encíclica, Francisco afirma que a fé é "o bem comum" e reitera a oposição do Vaticano ao casamento gay. Ele também argumenta que a fé continua a ser relevante, frente ao sentimento generalizado, principalmente nas sociedades ocidentais, de que é uma coisa do passado, uma "ilusão". Jorge Bergoglio defende o contrário, que a fé ilumina "o presente.

Neste texto, o Papa faz um apelo aos fiéis para que "não sejam arrogantes", mas "abertos ao diálogo", incluindo com aqueles que não creem. "A fé não é intransigente, ela cresce em um ambiente de convivência de respeito ao outro". Esta é a primeira encíclica da história do catolicismo escrita por dois pontífices, já que Bento XVI iniciou a redação antes de renunciar ao pontificado . Os dois pontífices se encontraram na manhã desta sexta, nos jardins do Vaticano durante a inauguração de uma nova estátua de bronze do arcanjo São Miguel. Jorge Bergoglio abraçou com afeição Joseph Ratzinger, que o convidou pessoalmente a esta cerimônia, uma maneira de homenagear o dia da publicação da encíclica.