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Após casos de espionagem, Alemanha quer restabelecer confiança nos EUA

Escritórios oficiais da União Europeia nos Estados Unidos e em Bruxelas eram alvo de espionagem da agência norte-americana NSA há muitos anos

BERLIM - Os Estados Unidos devem tentar "ganhar novamente a confiança" de seus aliados europeus após as revelações sobre o programa de espionagem do país, afirmou nesta segunda-feira (1/7) um porta-voz da chanceler alemã Angela Merkel.

Neste final de semana, o governo alemão demonstrou à Casa Branca sua "supresa", declarou o porta-voz Steffen Seibert, que disse também acreditar que o caso precisa ser esclarecido.

"A Europa e os Estados Unidos são parceiros, amigos, aliados. A confiança deve estar na base desta relação. E a confiança, neste caso, precisa ser restabelecida", afirmou Seibert em coletiva de imprensa.

O jornal alemão Der Spiegel revelou na edição deste domingo que escritórios oficiais da União Europeia nos Estados Unidos e em Bruxelas eram alvo de espionagem da agência norte-americana NSA há muitos anos. Segundo o jornal, a Alemanha seria um alvo privilegiado.

"O que sai na imprensa pode não corresponder exatamente à realidade. Precisamos de esclarecimentos", ressaltou Seibert.

"Se ficar confirmado que representações diplomáticas da União Europeia e de países europeus foram alvo de espionagem, nós teremos que ser francos: espionar aliados é inaceitável, (...) não estamos mais na Guerra Fria".

"O governo alemão está comprometido em obter explicações completas. Caso contrário, estaremos dispostos a adotar uma reação europeia clara e unânime", afirmou o porta-voz.

De acordo com o representante, Alemanha e França já estão discutindo o assunto.



A questão também já teria sido tratada com Washington por meio de uma conversa entre Angela Merkel e Barack Obama.

"Obama está em viagem ao continente africano. Mas nossos serviços diplomáticos estão em contato, e eu acredito que em breve acontecerá uma reunião (com a chanceler)", disse Seibert. Segundo ele, o diálogo sobre as novas revelações é importante, já que o programa de espionagem americano já havia sido tratado pelos dois dirigentes durante a visita de Obama a Berlim no último 19 de junho.

O embaixador dos Estados Unidos em Berlim, Philip Murphy, também foi convidado nesta segunda-feira (1/7) para uma "reunião" no Ministério alemão das Relações Exteriores. Seibert rejeitou o uso do termo "convocação" para este encontro com o diretor político do ministério, Hans-Dieter Lucas.

Os diplomatas tiveram uma "reunião exaustiva" ao longo da qual o governo alemão manifestou "sua expectativa clara de que o governo americano apresente rapidamente esclarecimentos sobre todas as questões", segundo comunicado do ministério das relações exteriores.

Consultado sobre um eventual impacto dos casos de espionagem nas negociações para um possível tratado de livre comércio transatlântico, o porta-voz do governo alemão insistiu na necessidade de haver "confiança" entre os dois países.

"Nós queremos este acordo de livre comércio", afirmou Seibert. Mas "é claro que, para negociar um acordo, é preciso confiança mútua. Um acordo deve ser negociado igualmente e numa atmosfera de confiança, e é exatamente esse clima que precisamos restabelecer".