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Coreia do Sul quer combater o vício dos jovens por smartphones

Aproximadamente 40% dos donos desses aparelhos passam mais de três horas por dia no Twitter, conversando ou jogando, apesar de os professores apreenderem os celulares antes do início das aulas

Seul - A Coreia do Sul, país de origem da Samsung e líder mundial do mercado de celulares, está orgulhosa de seu sucesso no setor de tecnologia de ponta, mas as autoridades governamentais estão preocupadas com a crescente dependência das pessoas em relação às ferramentas do mundo digital. "São escravos sem cérebro", sentencia Kim Nam-Hee, um dos especialistas que tenta sensibilizar os estudantes sul-coreanos sobre os perigos dos telefones inteligentes, que viciam crianças cada vez mais novas.



"Muitas mães deixam que seus bebês brinquem com seus smartphones por horas para ficarem tranquilas em casa. Acho que isso é perigoso", disse à AFP Lee Jung-Hun, psiquiatra da Universidade Católica de Daegu. "Quanto mais jovem, mais fácil é de se tornar dependente", explicou. Kwon Jang-Hee, um ex-professor que lidera uma associação de luta contra a dependência digital, viaja pelo país desde 2005 para informar e alertar crianças e seus pais sobre o perigo de um estilo de vida em que se investe tempo demais na tecnologia digital.

"Nosso tema preferido são os smarthphones", diz o ex-professor, já que os pais têm menos controle sobre os celulares do que sobre os computadores. Kwon cita alguns exemplos extremos em que algumas crianças chegaram a ameaçar o suicídio se seus pais confiscassem seus aparelhos. Park Sung-Hee, que participou de um dos seminários de Kwon, espera conseguir que seus filhos gastem menos tempo com seus celulares. "À noite, quando vou a seus quartos para ver se dormiram, vejo a luz dos telefones ligados embaixo dos lençóis", conta. "O mesmo acontece com os adultos, que já não são mais capazes de se comunicar ou se interessar por outras coisas", completa.

Em uma recente apresentação para uma turma de crianças de 10 anos, Kim Nam-Hee, que trabalha com Kwon, explicou que a rede de escolas Waldorf, nos Estados Unidos - cuja unidade do Vale do Silício, na Califórnia, é uma das escolas mais populares entre os pais que trabalham no Yahoo! ou no Google - aposta em um enfoque menos tecnológico e proíbe o uso de computadores em suas dependências.

"Enquanto vocês se transformam em escravos sem cérebro dos smartphones e de seus aplicativos, a elite americana, que criou essas ferramentas, não deixa que seus próprios filhos as usem", argumenta Kim. "Se usarem demais seus smartphones, como o iPhone, sem necessidade de exercitar o cérebro, no fim das contas vocês vão perder a capacidade de criar algo tão brilhante e inovador como o iPhone", explicou. "Essa é a ironia dessa situação", completou.