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Chuvas de monção podem ter causado 1 mil mortes no norte da Índia

Os bombeiros resgataram corpos que flutuavam no rio Ganges, enquanto cerca de 10.000 pessoas, a maioria turistas e peregrinos, permanecem isolados ou desaparecidos



Doze mil pessoas foram resgatadas pela equipe da força aérea e terrestre, que enfrentaram o mau tempo e o terreno inóspito, disse um oficial, enquanto parentes esperavam notícias de seus entes queridos.

[SAIBAMAIS]Em Govindghat, uma pequena cidade na rota para o local sagrado sikh de Hemkund, o exército construiu pontes temporárias, amarrando cordas nas margens dos rios para ajudar os civis a atravessar os rios com segurança.

Oficiais envolvidos no resgate em Dehradun disseram que 550 pessoas que estavam presas na região remota de Jungle Chatti foram evacuadas.

"Nós também colocamos 2500 pessoas em segurança em Badrinath", disse ele.


A cheia dos rios varreu casas, edifícios e aldeias inteiras e destruiu pontes e estradas estreitas que levavam a locais de peregrinação neste estado montanhoso, conhecido como a "Terra dos Deuses" por seus famosos templos hindus.

Cerca de 120 corpos foram recuperados no templo de Kedarnath e mais corpos podem ser encontrados em uma selva próxima onde turistas se refugiaram depois que hotéis e outros prédios desabaram no dilúvio.

Nishi Shrivastava, 30, contou com horror como ela teve que, praticamente, "navegar" entre os corpos espalhados próximos ao templo Kedarnath.

"Os corpos estavam espalhados por toda a parte. Foi pior que um pesadelo. Perdi toda a esperança de ver os membros da minha família novamente," disse ela à AFP, antes de embarcar em Dehradun para voltar para casa em Agra, vizinho ao estado de Uttar Pradesh.

Operações aéreas recomeçaram nas áreas de Harsil e Dharasu depois de terem sido suspensas na manhã deste domingo devido às chuvas e ao tempo nublado, disse o porta-voz da Força Aérea Indiana, Priya Joshi, à AFP.

Para milhares de pessoas presas, tem sido uma batalha cruel pela sobrevivência contra as adversidades, disse um oficial da equipe de resgate do exército.

"Eles estão presos por mais de cinco dias sem comida ou água. As temperaturas têm caído durante a noite, mas eles não têm nenhum abrigo," disse ele, sem se identificar.


Alguns sobreviventes reclamaram que estavam sendo explorados pelos moradores locais, que queriam lucrar com suas condições de miséria.

Shri Purushottam, um homem de 50 anos do estado de Maharashtra, chorava sem consolo ao lembrar os momentos em que seu filho de 10 anos morreu em seus braços.

"Ele morreu de fome e de sede. Eu continuei pedindo ajuda. Alguns moradores locais disseram que poderiam conseguir que ele fosse transportado se eu desse a eles 35.000 rúpias (U$520).

"Eu concordei, mas eles levaram o meu filho e o abandonaram depois", disse ele à AFP.

As forças de resgate enviaram inúmeros aviões não-tripulados para localizar sobreviventes em áreas remotas que continuam inacessíveis.

Imagens de televisão também mostraram paraquedistas usando cordas para descer de helicópteros militares e ajudar nas operações de resgate.

Trens especiais e ônibus foram colocados em serviço para levar turistas para casa e enviar suprimentos médicos e comida para as pessoas que estão presas.

Oficias disseram que neste domingo, quase 80 mil pessoas foram evacuadas das regiões devastadas pelas enchentes.

O governo da Índia já anunciou um pacote de ajuda de U$179 milhões para as vítimas e os Estados Unidos anunciaram neste domingo que vão oferecer U$150.000 em ajuda.

"Estamos muito tristes pelas enormes perdas de pessoal e pelos prejuízos" às casas e infraestrutura, disse a embaixadora dos EUA, Nancy Powell, enquanto o Secretário de Estado dos EUA, John Kerry, começou uma visita à Nova Délhi.

As monções, que atingem o subcontinente de junho a setembro, costumam provocar alagamentos, mas as pesadas chuvas começaram mais cedo este ano, pegando muitas pessoas de surpresa e expondo a falta de preparo das autoridades.

As inundações e os deslizamentos causados pelas chuvas de monção também atingiram o vizinho Nepal, deixando, pelo menos 39 mortos, de acordo com o governo de Katmandu.