Jornal Correio Braziliense

Mundo

Ataque de islâmicos radicais a base da ONU deixa 9 mortos na Somália

Alertas haviam sido acionados há semanas, e os funcionários da ONU faziam exercícios de segurança regulares, nos quais iam para um bunkers seguros dentro do complexo

Insurgentes da milícia somali Shebab, ligada à Al-Qaeda, atacaram uma base da ONU em Mogadíscio nesta quarta-feira (19/6), deixando nove mortos na ação mais grave contra a organização no país. Pelo menos três estrangeiros estão entre os mortos. Outros três mortos são guardas somalis e três são civis, informaram os oficiais. As nacionalidades dos estrangeiros ainda não puderam ser confirmadas.

O primeiro-ministro da Somália, Abdi Farah Shirdon, se referiu ao episódio como um "ataque desprezível e sem sentido a inocentes da ONU", e o secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, se disse "chocado". Os militantes do Shebab, que assumiram a autoria do ataque, usaram um carro-bomba e praticaram ataques suicidas para causar explosões que abriram caminho na base fortificada em Mogadíscio.

A Polícia afirmou que pelo menos sete membros da milícia estão envolvidos no ataque. Todos morreram, ou por terem se suicidado ou por terem sido baleados.

Alertas haviam sido acionados há semanas, e os funcionários da ONU faziam exercícios de segurança regulares, nos quais iam para um bunkers seguros dentro do complexo. "Nossos comandos atacaram um complexo da ONU... Nós explodimos e entramos na base", disse uma liderança shebab à AFP, esclarecendo que o grupo agiu para atacar "as forças infiéis".

Tropas somalis e da União Africana entraram no complexo, enfrentando forte resistência dos islâmicos. O cerco das forças de segurança durou uma hora e meia. "A situação está sob controle... Soldados somalis juntos com forças da União Africana invadiram o complexo e mataram os terroristas", disse o oficial da Polícia Abdulahi Osman.

Um repórter da AFP viu vários corpos ensanguentados sendo carregados em macas improvisadas e informou que um intenso tiroteio começou depois de uma série de explosões, enquanto os militantes entraram em combate com as forças de seguranças. "Alguns dos ;kuffar brancos; (incrédulos) que tentaram lutar contra os mujahedines dentro dos escritórios foram mortos e jogados para fora do complexo", indicou o Shebab na sua página no Twitter.



O complexo - que inclui áreas residenciais e escritórios comerciais - está localizado próximo ao aeroporto e a segurança é feita por guardas particulares. "O confronto acabou, há muitos soldados do governo na área", disse a testemunha Ahmed Sudi.

A capital da Somália tem sido alvo de vários ataques suicidas e com carros-bomba, embora nas últimas semanas a cidade estivesse relativamente calma. Os militantes do Shebab chegaram a controlar a maior parte da capital, até que o grupo abandonou suas posições em 2011. Porém, os insurgentes vêm, desde então, realizando uma série de ataques contra o governo auxiliado pela ONU.

O último grande ataque foi em abril, quando o Shebab enviou uma unidade suicida para explodir o principal complexo judiciário de Mogadíscio. Alguns dos militantes acionaram seus coletes explosivos, enquanto outros abriram fogo em uma ação que matou 34 pessoas.

Relatórios sugerem que o ataque ao complexo da ONU usou táticas semelhantes à da investida ao tribunal. A força de 17 mil soldados da União Africana, que luta ao lado das tropas somalis, obrigou os militantes a deixar uma série de cidades importantes. Apesar de divididos por lutas internas e de serem caçados por aviões americanos, os extremistas do Shebab continuam a ser uma forte ameaça, promovendo assassinatos e explodindo carros-bomba. Além disso, ainda são muito ativos nas zonas rurais e estão infiltrados nas forças de segurança.

O primeiro-ministro somali condenou os ataques. "A ONU é nossa amiga e parceira, e suas agências nos oferecem ajuda humanitária e suporte, então eu e todos os somalis estamos revoltados por eles terem se tornado alvos e vítimas de tamanha barbárie", afirmou em um comunicado.

Em 2008, um carro-bomba explodiu no complexo do Programa de Desenvolvimento da ONU no estado autodeclarado independente de Somaliland, deixando dois funcionários da organização mortos.