Desalojados no sábado à noite do Parque Gezi com gás lacrimogêneo e jatos d;água, os manifestantes prometeram voltar neste domingo à Praça Taksim, berço do movimento que agita a rua turca há mais de duas semanas, o que dever desencadear novos episódios de violência.
Na manhã deste domingo, um grande esquema policial interditava os acessos à praça, entregue ao serviço de limpeza da cidade que eliminava as últimas marcas da violência noturna.
No bairro de Sisli, a algumas centenas de metros da Praça Taksim e do Parque Gezi, a polícia dispersou com jatos d;água e bombas de gás lacrimogêneo jovens que ainda resistiam durante a manhã.
Enquanto isso, e pela primeira vez em Istambul desde o início da onda de contestação popular, unidades da guarda, uma força militar submetida em tempos de paz ao Ministério do Interior, foram mobilizadas nos dois lados do Bósforo para evitar qualquer concentração de manifestantes vindos da parte asiática de Istambul.
Em Ancara, a polícia também enfrentava centenas de manifestantes que foram dispersados com muito gás lacrimogêneo.
Após uma primeira concentração gigantesca no sábado em Ancara, o chefe do governo organizou uma nova demonstração de força à tarde em um parque de Istambul, a cerca de dez quilômetros da Praça Taksim.
[SAIBAMAIS]
Dezenas de milhares de simpatizantes de seu Partido da Justiça e do Desenvolvimento (AKP, oriundo do movimento islamita) participaram do ato.
No 15; dia da crise, Erdogan passou para a ação na noite de sábado com o objetivo de acabar com o movimento de contestação após a rejeição dos ocupantes do Parque Gezi em deixar seu reduto, apesar da promessa do governo de suspender seus projetos de remodelação até que a justiça tome uma decisão definitiva.
Duas horas depois de um novo ultimato, as unidades anti-motins da Polícia retomaram o controle do parque que haviam deixado, sufocando os ocupantes com uma nuvem de gás lacrimogêneo.
"Eles entraram à força, com muito gás. Eles agrediram até as mulheres", contou à AFP Ader Tefiq, um dos manifestantes. "Eu estava dentro da barraca-hospital (...), eles lançaram bombas de gás lacrimogêneo e dezenas de policiais entraram", disse Elif, uma psicóloga de 45 anos.
Noite de violência
Segundo a coordenação dos manifestantes, batizada Solidariedade Taksim, centenas de pessoas ficaram feridas durante a operação. O governador de Istambul, Huseyin Avni Mutlu, indicou neste domingo 44 feridos.
O vice-primeiro-ministro, Huseyin Celik, justificou a evacuação do parque. "O governo não podia deixar esta ocupação continuar eternamente", disse Celik neste domingo.
"Esse pesadelo tinha que acabar", completou.
Logo depois da nova evacuação do parque, dezenas de milhares de pessoas saíram às ruas de Istambul para tentar "retomar" a Praça Taksim. Ainda à noite, policiais agiram com gás lacrimogêneo, jatos d;água e balas de borracha para dispersar a multidão em várias vias da cidade.
Milhares de pessoas que tentavam passar do lado asiático para ao europeu do Bósforo foram dispersadas.
Em Ancara e Izmir (oeste), milhares de manifestantes também se reuniram durante a noite para denunciar a intervenção da Polícia, mas não houve incidentes.
No início da onda de contestação, em 31 de maio, a Polícia agiu com violência para dispersar militantes ambientalistas que protestavam contra a destruição anunciada do Parque Gezi e de seus 600 plátanos.
A ira provocada por essa operação suscitou a maior revolta contra o governo islâmico conservador desde a sua chegada ao poder em 2002.
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Nas maiores cidades do país, dezenas de milhares de manifestantes exigiram a renúncia de Erdogan, acusado de autoritarismo e de querer "islamizar" a sociedade turca. Parte da juventude turca critica, principalmente, os projetos de leis sobre as limitações ao direito ao aborto e a utilização de pílulas do dia seguinte, assim como a proibição da venda de álcool após as 22h00.
De acordo com o último registro do sindicato dos médicos turcos, quatro pessoas morreram e cerca de 7.000 ficaram feridas desde o início da contestação, em 31 de maio.