Se ao longo dos últimos meses se sucederam recados, enviados dentro dos parâmetros que a sutileza diplomática requer, neste mês de festas juninas o correio elegante dá lugar a uma abordagem mais direta e sem subterfúgios: a Europa não vislumbra perspectiva concreta de um acordo comercial com o Mercosul, ao menos em prazo tangível, e convida o Brasil a explorar a opção de acordos parciais por fora do bloco. Ou, então, desafia aquele que considera o país em condições de destravar o processo, pelo lado sul-americano, a exercer sua natural preponderância sobre os sócios. ;O Brasil tem que assumir sua liderança;, disse com todas as letras um emissário da parte sul do Velho Mundo ; a mais próxima à América Latina, tradicionalmente, e atualmente a mais necessitada de desafogo para a crise.
O aparente flerte com a principal economia da região, no entanto, é parte de um jogo que, a exemplo do xadrez, envolve planos táticos e estratégicos de médio e longo prazo. Por isso mesmo, requer da diplomacia brasileira um exame cuidadoso e isento de prejulgamentos. O fato é que, a partir de 2009, com a irrupção da crise financeira global, desenhou-se para o país a variante de ;fatiar; o bloco europeu, jogando com a urgência de alguns dos sócios por aberturas comerciais. Do outro lado do Atlântico, porém, a percepção do momento mudou ligeiramente. Agora, são eles que contemplam a possibilidade de, a exemplo de como os mineiros fazem com o mingau, abordar o Mercosul ;pelas beiradas;.